segunda-feira, 14 de maio de 2007


Leituras...


A Índia no Século XXI, do diplomata de carreira, mas também escritor e historiador, Pavan K. Varma, membro da Royal Society of Literature e da Royal Asiatic Society, publicado recentemente em português pela editorial Presença, procura dilucidar, através da História, Religião e de esclarecedores exemplos concretos, o que significa ser indiano no início do século XXI. (Aclamado pela crítica como um dos mais bem conseguidos ensaios sobre a identidade desse grande “dragão” do Oriente em mudança e clara ascensão no mundo.)
As grandes virtualidades desta obra de leitura fácil e agradável consistem na rara capacidade de mostrar, muito simplesmente, que a organização liberal do estado, por um lado, e o esforço individual, por outro, se apresentam como dois factores fulcrais da mudança para o sucesso.

Por um lado, o ascendente sucesso económico da Índia deve-se, ao contrário, por exemplo, da “vizinha” China, à forma liberal como a sua sociedade e estado estão a ser organizados («o povo indiano tem liberdade política para escolher o que mais gosta e o que melhor faz, enquanto o povo chinês não tem», p. 226). Apesar de uma sociedade estratificada pela velha divisão social em castas, o desenvolvimento económico passa também por um desenvolvimento social, visível na crescente igualdade de oportunidades de acesso ao ensino superior, por exemplo com quotas de diferenciação positiva para as castas mais baixas.
Por outro lado, ler esta obra faz-nos pensar como a motivação para a aprendizagem efectiva de conhecimentos e competências pode depender, em larga medida, de circunstâncias sócio-económicas iniciais de alguma adversidade, dada a vital necessidade de aprender, com esforço, para ascender, quando não para sobreviver. Se algumas universidades são autênticos hotéis de luxo (chegam a ostentar campos de golfe!), o esforço aí despendido para obter sucesso através do conhecimento e competência é o mesmo que se pode encontrar também nas inúmeras escolas de piso térreo, sem mesas nem cadeiras, a que as crianças acedem depois de percorrerem alguns quilómetros de bicicleta, cenário disseminado pelo vasto continente indiano.
Talvez o nosso país, na fase de desenvolvimento em que se encontra, tivesse muito a aprender com a atitude altamente positiva dos indianos, cujas crianças parecem estar minimamente bem orientadas e motivadas para lutar efectivamente por uma vida melhor. Isto, claro está, se muitos de entre nós se dessem ao trabalho de procurar aprender verdadeiramente alguma coisa!
(Ah, sim, claro: quem não quer ser como os finlandeses – que coisa horrorosa! – muito menos se quererá assemelhar a esses indianos!!)

P.S. (duas curiosidades):
1. Num estudo internacional recente, a Índia “colocava” duas Universidades nas cem melhores Universidades de Ciências Sociais do Mundo, enquanto que Portugal... nenhuma!
2. A indústria cinematográfica indiana (já com uma longa tradição) já produz mais filmes do que... Hollywood!

Sem comentários: