segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Leituras…

…de Fareed Zakaria, O Mundo Pós-Americano, trad. port. Edgar Rocha (Lisboa: Gradiva, 2008). Jornalista conceituado, Zakaria é actualmente editor da Newsweek International e foi considerado, pelas revistas Foreign Policy e Prospect, como um dos intelectuais mais influentes do mundo em 2008. Numa análise bem informada da política internacional, Zakaria sustenta a tese, hoje amplamente reconhecida, de que estamos a entrar numa era multipolar, com a “ascensão dos demais”, designadamente dos chamados “BRIC” (Brasil, Rússia, Índia e China). Há um conjunto de países, antes em vias de desenvolvimento, que vivem hoje uma fase de grande crescimento económico (àqueles podem juntar-se o México, a África do Sul e outros). E esta prosperidade é devida mais à economia, do que à política – imediatamente antes da eclosão da crise económica internacional que vivemos, Zakaria sustenta a tese central de que, em todo o mundo, a economia (o mercado livre) está a levar a melhor sobre a política (a economia e a tecnologia, muito embora também a política, têm empurrado na direcção da expansão global e têm permitido a países mais pobres começarem a crescer). Ou seja, parece um paradoxo: a política mundial parece ter problemas sérios (falta de capacidade para resolver problemas globais), enquanto, apesar disso, a economia avança, embora não sem quebras e crises, mas continuando num sentido ascendente em todo o mundo.

Para ilustrar esta ascensão, o autor refere o notável decréscimo na percentagem de pessoas que vivem com 1 dólar ou menos por dia: em 1981 eram 40% da população mundial; em 2004 diminuiu drasticamente para 18%; e estima-se que, até 2005, caia para os 12%. «Pela primeira vez na história, estamos a assistir a crescimento global genuíno» (p. 13).

Ora, este desenvolvimento económico dos demais trouxe implicações no sistema internacional – o mundo, defende Zakaria, será um mundo pós-americano, com a participação de outros países na determinação da política internacional. A bipolaridade da guerra fria (E.U.A. – U.R.S.S.) cedeu o lugar à unipolaridade americana – predomínio americano, a que se assistiu no pós-guerra fria, nas questões internacionais (guerras do Iraque e Afeganistão, por exemplo); estar-se-á agora a iniciar uma fase em que os E.U.A. estão a perder a sua hegemonia económica e, em breve, política. A fase de unipolaridade americana fez aumentar o sentimento anti-americano em todo o mundo, designadamente na fase de George W. Bush; nesta nova fase emergente de multiporalidade, o mundo está, segundo Zakaria, a americanizar-se, com vários povos a começarem a acreditar e a desejar o velho sonho americano de liberdade individual e prosperidade económica. Continua a haver uma procura da ideologia americana e uma vontade de que os seus valores se tornem universais.

Mas, apesar da perda de hegemonia, os E.U.A. podem desempenhar um papel fulcral na cena internacional: para Zakaria os E.U.A. deveriam ser – como foi a Alemanha de Bismark no séc. XIX, na Europa – o “mediador honesto” dos vários conflitos regionais um pouco por todo o mundo. Se tal for conseguido, todos sairão a ganhar, inclusive os E.U.A.. O que Washington deverá compreender é que tem que actuar em diálogo com os demais países em ascensão, que naturalmente estão a conquistar um lugar na política mundial. O autor propõe algumas mudanças de atitude, algumas orientações para os E.U.A. poderem operar neste novo mundo, de que saliento a construção de «grandes regras e não interesses estreitos» (p. 223 ss.), o que equivale a dizer que os E.U.A. não podem querer impor aos outros princípios fundamentais de actuação, se eles próprios os não cumprirem, alegando, como têm alegado, um ilegítimo direito de excepção. Há que ser coerente – os problemas mundiais (fome, alterações climáticas, crise energética, crises económicas…) exigem uma actuação política mais eticamente reforçada no sentido da verdadeira comunhão de interesses e decisões consensuais vinculativas.

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