segunda-feira, 30 de abril de 2007

Leituras...

...que muito contribuiriam para o aperfeiçoamento da democracia (caseira e de além fronteiras), das relações internacionais, do diálogo das civilizações.
Saiu recentemente a tradução portuguesa, pelas edições Tinta-da-China, de Identity and Violence. The illusion of destiny, de Amartya Sen, originalmente publicado pela W. W. Norton and Company (London/New York 2006). (A sobrecapa da edição da Norton é, de facto, soberba, o que, num livro, não é pormenor despiciendo!)

O Prémio Nobel da Economia 1998, professor em Harvard e um dos maiores economistas e eminente filósofo social e político da actualidade reflecte sobre uma problemática filosófica central – o problema da identidade e da diferença – trazendo-a para o plano das ciências sociais, com o intuito de repensar temas actuais como a globalização económica, o multiculturalismo político, o pós-colonialismo histórico, a etnicidade social, o fundamentalismo religioso e o terrorismo global.

Sen mostra como a identidade e sentimento de pertença a uma cultura, religião, ou grupo, tendencialmente exacerbados, têm conduzido a humanidade à acção política violenta. Assim, defende a tese de que a paz mundial depende da assunção da multiplicidade das nossas afiliações (pertenças, identidades) e do uso da reflexão baseada numa razão pública livre e plural, mas guiada pela razoabilidade intelectualmente responsável.

Ao invés de se alimentar a ilusão de que pertencemos exclusivamente a uma identidade, devemos antes abrir-nos a uma identidade comum. Não é necessário, para tal, renegar em absoluto o húmus identitário cultural, social, étnico, religioso de onde provimos. É imperioso, isso sim, encontrar uma plataforma axiológica de consenso mínimo mundial. Porém, há que suspeitar criticamente da ideia que alimenta a globalização – uma identidade única, que tenderá para a homogeneização cultural, sonegando outras possíveis soluções.

Sen deixa, de qualquer modo, um repto: devemos olhar-nos como «vulgares habitantes de um mundo vasto, e não como reclusos encarcerados em pequenos compartimentos» (p. 21 da trad. port.).

3 comentários:

Unknown disse...

Olá Miguel,
moro no Rio de Janeiro e cheguei aqui através do google, procurando como o Identidade e Violência - apesar de ter enviado email p/a Edições Tinta da China - tb não consegui encontrar nem no Amazon - se vc puder fazer a gentileza de me informar como consigo comprar, te agradeço. De qq maneira, gostei muito de descobrir este blog, já coloquei nos Preferidos. Abs.

Miguel Portugal disse...

Cara Marlene, encontrei a tradução referida numa loja da FNAC. Talvez aí a encontre ainda.

Unknown disse...

Super-obrigada, Miguel, por me responder - mas, felizmente, uma amiga virtual me enviou e eu já estou com ele! Ando tão atolada de trabalho q só hoje pude voltar - mas seu blog já está nos meus Preferidos - e voltarei sempre q puder - vc escreve muito bem!
Um grande abraço.