O PR mostrou, no seu discurso comemorativo dos 34 anos do 25 de Abril, alguma indignação pela ignorância revelada pelos jovens portugueses face aos importantes acontecimentos de Abril de 74 e pelo alheamento muito generalizado face à política.
Estes dados recolhidos em estudo realizado pela Universidade Católica mereceriam uma análise sociológica mais aprofundada. Mas poder-se-iam destacar algumas ideias, que parecem estar com isto relacionadas:
1. Muitos jovens estão alheados da política, como estão alheados de outras áreas culturais centrais, como a ciência, as humanidades e até as artes. A única área que parece prender a atenção dos jovens, em geral, são as tecnologias, ainda assim por via da diversão.
2. Este alheamento face à política deve-se, obviamente, às práticas políticas que observam nos adultos, pouco orientadas por princípios éticos -- a política portuguesa encontra-se, desde há algum tempo, enredada num esvaziamento ideológico (sem ideias, portanto!) e tem-se resumido mais ou menos a meros jogos de interesses particulares, corrupções (activas ou passivas) e outras artimanhas, que dificilmente atraiem, por exemplo, adolescentes, que vivem precisamente uma fase de desenvolvimento intelectual e moral que os torna demasiado exigentes do ponto de vista ético para se apaixonarem pelas actuais "problemáticas" políticas e, muito menos, tomarem parte activa em tão "vil" actividade!
3. Mas o alheamento pela política enquadra-se, pois, num alheamento mais generalizado face à "alta" cultura -- à ciência, às artes, às humanidades, que são áreas do pensamento e da acção humana suficientemente complexas e árduas (por muito apaixonantes que possam efectivamente ser), que facilmente se tornam num profundo aborrecimento para todos (adultos incluídos!).
4. Problema de formação, portanto. Solução? A demagogicamente fácil é hoje apontar armas à escola. É claro que da escola depende uma boa parte da motivação para os jovens se interessarem pelos vários âmbitos do saber (política incluída). Mas para a escola cumprir este seu papel é necessário não só mais empenhamento dos professores, mas também orientações pedagógicas de qualidade e não ideologicamente marcadas por um sociologismo da educação castrador, porque avassaladoramente monológico, que tem dominado o ME nas últimas décadas. Além disso, é necessário não esquecer também como um ambiente social generalizado (veiculado eficazmente pelos mass media, através da música, da publicidade...) de bem-estar, lazer, fuga ao esforço, ao trabalho e à responsabilidade, procura da acção fácil e consumismo compulsivo esvazia completamente o ser humano das nossas sociedades contemporâneas, portuguesa muito em particular, e extraviam-no do caminho do inter-esse ("no meio do ser", envolvimento) por actividades intelectualmente tão atractivas quão necessárias, como a ciência, a política, as artes e as humanidades.
Se este alheamento preocupante é também um problema de formação é-o, sobretudo, de mentalidades. Mudar estas mentalidades (políticas incluídas!) pouco efectivamente modernas e, portanto, avessas ao verdadeiro (árduo!) desenvolvimento político, económico, social e cultural, não se consegue com ainda mais facilitismos. Se há que melhorar desempenhos, por exemplo dos professores nas escolas, há também que melhorar desempenhos de políticos, que, no caso dos que ocupam o poder, deveriam ter (tido) a coragem de implentar medidas, designadamente na área crucial da formação, que promovessem o esforço e o envolvimento da sociedade em geral, ao invés de criar a ideia (facilmente eleitoralista!) de que a formação (já nem se fala de qualidade!!) é coisa fácil!
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