Um cartaz do PNR exibe em Lisboa um slogan, tão desesperado quanto irracional, contra a imigração, advogando que o "nacionalismo é solução". É claro que a imigração deve ser regulada, por uma questão de segurança: controlada a entrada de imigrantes, fiscalizados o seu vínculo laboral, as suas obrigações fiscais e as das entidades empregadoras, a fim de evitar a exploração de mão-de-obra e tráfico de pessoas, bem como garantidos todos os direitos constitucionalmente previstos. Mas o pluralismo é decididamente revelador da sensatez e razoabilidade da aceitação do outro axiológica, política, culturalmente diferente, quando a (boa) vontade é o alargamento da liberdade possível ao maior número de seres humanos, povos e culturas decentes.
Quanto à indigência, oportunismos subsidiários e marginalização, de que o presidente do referido partido político acusa os imigrantes, trata-se tão só da cartilha do fundamentalismo nacionalista, que é recorrentemente usada para justificar o xenofobismo -- trata-se de uma simplificação grotesta da realidade, pois estes desvios comportamentais (censuráveis, obviamente!) não têm, efectivamente, nacionalidade! Como se o nacionalismo político (a organização política da sociedade determinada por valores estritamente nacionais, dogmática e totalitariamente impostos) apenas permitisse tais desvios... aos nacionais! O nacionalismo não é, decididamente, a solução.
Trata-se, pois, de uma excrescência de erros político-ideológicos recentes, que abalaram tragicamente a Europa do último século e se enquadram num movimento fundamentalista que graça hoje, um pouco por todo o mundo, com especial relevância em alguns países árabes, mas que o diálogo de culturas deve esbater.
De qualquer modo, mesmo no seio da civilização que inventou a democracia e os direitos humanos, continuarão sempre a existir (ao que parece) indivíduos psicologicamente inadaptados ao outro e politicamente desesperados por uma solução para os problemas sócio-políticos, que não existe feita, mas se constrói, de modo paciente e racionalmente ponderado.
A conclusão tolerante da Procuradoria-Geral da República, de que tal infeliz cartaz, «por si só», não constitui (ainda) um crime de «discriminação racial ou religiosa» (Lusa), só demonstra a maior razoabilidade e sentido de justiça do sistema democrático de orientação liberal, na organização e arbitragem da maior liberdade possível para todos.