terça-feira, 6 de março de 2007

Museu Salazar – mais democracia e não menos democracia!

O que é um Museu? É um espaço público que reúne objectos (de arte, ciência, política) culturalmente significativos para a memória de uma sociedade. Será Salazar objecto de colecção culturalmente significativa para a sociedade portuguesa? Apenas como ícone do Estado Novo, período da História Contemporânea de Portugal cujo significado cultural e histórico sobressai como contraponto entre o antigo regime ditatorial e o regime democrático liberal.
A ser bem constituído – com base numa séria reconstituição histórica do ditador e da sua relevância histórico-política, tão rigorosa quanto o saber actual o permita – poderia constituir um acervo documental para continuado estudo histórico do Estado Novo, mas também funcionar justamente como memória de um passado político que nos levaria, a cada visita, a pensar os logros e, naturalmente, os malogros da democracia. Mas, visitando tal Museu, a maioria das pessoas (há sempre lugar a excepções) só se poderia regozijar com o regime democrático... embora por cumprir!
Repare-se que, se em vez de Salazar tivéssemos tido Fidel Castro, o Estado deveria financiar, pelas mesmas razões estritamente histórico-culturais, o “Museu Fidel”!
Ou seja, impedindo ou proibindo este tipo de iniciativas culturais, estaríamos a edificar uma “democracia” baseada num infundado protectorado de ideias! Ao invés, a verdadeira democracia deve estar aberta ao pluralismo intelectual razoável, à busca racional e livre da verdade.
Note-se que o tão criticado Salazar (mas quem o não critica por tal?!), como líder de um verdadeiro regime totalitário, esse sim, seria capaz, como profusamente foi, de tal acto de censura e de impedimento forçado de acesso à História. A verdadeira razão de ser da recusa do Museu, perderia toda a razão de ser!
E depois não é um “Museu Pinochet” nem um “Museu Hitler”! (Embora na Alemanha existam tentativas, ao que parece muito sérias, como o Museu do Nazismo, da responsabilidade do Centro de Documentação do Nazismo [EL-DE-Haus] em Colónia, para aumentar a consciência histórica, mostrando ao mundo as atrocidades do nazismo! O mesmo fenómeno está em curso na Rússia, com o início da “revelação” do Gulag e outras atrocidades do regime comunista.)
Mas terá o regime salazarista sido assim tão tragicamente cruel (sem querer, obviamente, escamotear todo o seu totalitarismo!), que tenhamos de, pura e simplesmente, o elidir desesperadamente da nossa memória colectiva e, assim, impedir a formação crítica de uma verdadeira consciência histórico-política das gerações futuras?
Para que a democracia funcione não devemos ter receio de sermos democratas – para isso, só precisamos de ser esclarecidos!

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