A poesia de Homero foi a cartilha da Grécia, primeiro pelos seus recitadores profissionais, os homéridas, depois com o surgimento do livro como objecto comercial. A poesia na Grécia Antiga tinha um forte poder educativo, pois envolvia aspectos éticos e não apenas estéticos, com conteúdo normativo e forma artística – abordava o humano em toda a sua profundidade e nutria-se de um ethos, de um anseio espiritual, de uma concepção do humano capaz de se tornar numa obrigação e num dever. Acresce o poder que a expressão artística detém, através da força emocional capaz de motivar os homens, como meio para transmitir os valores mais elevados.
Platão – como já Heraclito e Xenófanes –, apesar de assumir, como grego que era, o papel educativo de uma certa poesia, critica sobretudo a concepção clássica que via na palavra do poeta uma norma (os gregos abusaram do argumento de autoridade, ao socorrerem-se, amiúde, dos poetas!). Platão mostrou que o mundo que os poetas pintam é o mundo das aparências, da ilusão, que uma filosofia, crítica, racionalmente aprofundada, facilmente destrói. Há uma ética e uma metafísica mais elevadas. A episteme (o verdadeiro conhecimento) só a filosofia, não a poesia, almejará.
Platão foi, pois, o primeiro a descobrir realmente o perverso poder político da poesia, por via do livro, e chegou mesmo a propor a proibição dos poemas de Homero, por má influência.
Os sofistas recuperaram, à luz do seu relativismo gnoseológico, o poder persuasivo da poesia, propondo a ideia do poeta fingidor, que influencia todo o Ocidente, pelo menos até ao séc. XVII.
O séc. XVIII é o Século das Luzes, do esclarecimento, e a poesia foi também alvo desse foco da razão, que a arredou como irracionalismo para a dimensão estrita da estética. A modernidade procedeu à separação de ética e estética, cultivada pelos gregos.
Os românticos, como contraponto crítico da razão iluminista, voltaram a recuperar o fulgor criativo da poesia, tematizado filosoficamente pelo dionisíaco Nietzsche (ele próprio se fez poesia, como outrora os grandes pré-socráticos) num regresso desesperado aos gregos.
No séc. XX, o prolixo Heidegger bebeu em Holderlin e Nietzsche a riqueza prescrutante da poesia como inesgotável acesso hermenêutico ao ser – «a linguagem é a casa do ser» –, que se dá ocultando-se.
Sob efeito do inebriamento nietzscheano e do fascínio pela linguagem da primeira metade do século, os pensadores da pós-modernidade têm desconstruído o texto da racionalidade ocidental, conduzindo, todavia, a própria ciência, por vezes, pela mão de Alice/da poesia!
Estranho poder esse, o da poesia, que, misteriosamente enriquecedora da vida contemplativa, persiste, contudo, em furtar-se ao projecto nomológico da racionalidade humana de compreender e explicar o mundo.
Platão – como já Heraclito e Xenófanes –, apesar de assumir, como grego que era, o papel educativo de uma certa poesia, critica sobretudo a concepção clássica que via na palavra do poeta uma norma (os gregos abusaram do argumento de autoridade, ao socorrerem-se, amiúde, dos poetas!). Platão mostrou que o mundo que os poetas pintam é o mundo das aparências, da ilusão, que uma filosofia, crítica, racionalmente aprofundada, facilmente destrói. Há uma ética e uma metafísica mais elevadas. A episteme (o verdadeiro conhecimento) só a filosofia, não a poesia, almejará.
Platão foi, pois, o primeiro a descobrir realmente o perverso poder político da poesia, por via do livro, e chegou mesmo a propor a proibição dos poemas de Homero, por má influência.
Os sofistas recuperaram, à luz do seu relativismo gnoseológico, o poder persuasivo da poesia, propondo a ideia do poeta fingidor, que influencia todo o Ocidente, pelo menos até ao séc. XVII.
O séc. XVIII é o Século das Luzes, do esclarecimento, e a poesia foi também alvo desse foco da razão, que a arredou como irracionalismo para a dimensão estrita da estética. A modernidade procedeu à separação de ética e estética, cultivada pelos gregos.
Os românticos, como contraponto crítico da razão iluminista, voltaram a recuperar o fulgor criativo da poesia, tematizado filosoficamente pelo dionisíaco Nietzsche (ele próprio se fez poesia, como outrora os grandes pré-socráticos) num regresso desesperado aos gregos.
No séc. XX, o prolixo Heidegger bebeu em Holderlin e Nietzsche a riqueza prescrutante da poesia como inesgotável acesso hermenêutico ao ser – «a linguagem é a casa do ser» –, que se dá ocultando-se.
Sob efeito do inebriamento nietzscheano e do fascínio pela linguagem da primeira metade do século, os pensadores da pós-modernidade têm desconstruído o texto da racionalidade ocidental, conduzindo, todavia, a própria ciência, por vezes, pela mão de Alice/da poesia!
Estranho poder esse, o da poesia, que, misteriosamente enriquecedora da vida contemplativa, persiste, contudo, em furtar-se ao projecto nomológico da racionalidade humana de compreender e explicar o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário