Estreia no próximo dia 25, sexta-feira, no Teatro Nacional de São Carlos, a ópera “Das Märchen” ("O Conto" – texto de Göethe), do compositor português Emmanuel Nunes.
Além do interesse musical – trata-se da primeira ópera de um dos maiores compositores portugueses vivos e com maior projecção internacional –, interessa também analisar a iniciativa de a estreia ser projectada em mais 14 salas de espectáculos pelo país fora. Assim, de Aveiro a Vila Flor, passando pelas ilhas, o conto operático poderá ser visto, através de um ecran gigante e com legandas em português, em directo, noutros locais, que não a centralizada Lisboa.
Boa ideia. Mas irá perder-se muito da (na feliz expressão do grande Richard Wagner) Gesamtkünstwerke – “obra de arte total”: música, canto, teatro, bailado, até mesmo pintura! Perder-se-ão, sobretudo, duas coisas: a tridimensionalidade da encenação e a presença dos cantores/actores e bailarinos; e a inigualável envolvência do som, que provirá do fosso, qual avassaladora garganta sonoplástica, de importância fulcral na ópera.
A tentativa de democratizar certas manifestações culturais mais complexas (intelectual, mas também logística e financeiramente falando) é sempre polémica e pode não sair do plano das boas intenções. A propaganda política não chega para inculcar no São Carlos uma vertente de serviço público!
Além do interesse musical – trata-se da primeira ópera de um dos maiores compositores portugueses vivos e com maior projecção internacional –, interessa também analisar a iniciativa de a estreia ser projectada em mais 14 salas de espectáculos pelo país fora. Assim, de Aveiro a Vila Flor, passando pelas ilhas, o conto operático poderá ser visto, através de um ecran gigante e com legandas em português, em directo, noutros locais, que não a centralizada Lisboa.
Boa ideia. Mas irá perder-se muito da (na feliz expressão do grande Richard Wagner) Gesamtkünstwerke – “obra de arte total”: música, canto, teatro, bailado, até mesmo pintura! Perder-se-ão, sobretudo, duas coisas: a tridimensionalidade da encenação e a presença dos cantores/actores e bailarinos; e a inigualável envolvência do som, que provirá do fosso, qual avassaladora garganta sonoplástica, de importância fulcral na ópera.
A tentativa de democratizar certas manifestações culturais mais complexas (intelectual, mas também logística e financeiramente falando) é sempre polémica e pode não sair do plano das boas intenções. A propaganda política não chega para inculcar no São Carlos uma vertente de serviço público!
De qualquer modo, é, logo à partida, louvável o esforço de fazer chegar a mais pessoas uma das mais belas, complexas e intensas – pois, colossais – obras de arte, de que o ser humano revelou ser capaz. Uma récita num São Carlos é uma experiência inigualável e irrecriável por meios virtuais. Mas o centralismo das manifestações culturais (sobretudo em Lisboa), que excluem outras pessoas, de outros espaços geográficos, da fruição de tão exaltante manifestação artística pode valer, ainda assim, a pena. Se suscitar interesse nos neófitos, já terá valido. A ver.
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