"In memoriam"
(Linha do Tua, Agosto de 1997)
© Miguel Portugal
A febre das barragens, aduçada com uma calda de populismo para incautos e regada com uma já velha colheita de pseudo-dever cumprido na obra feita erguerá mais uma barragem. No caso, a da Foz do Tua. Mais uma vez, um conflito de valores em questão. Mais uma vez, a mesma teimosa incapacidade de ponderação. Em causa está, talvez sobretudo, um dos mais belos percursos ferroviários do mundo! (Para mais sobre o tema, neste blog, veja-se aqui.) Em causa está apenas uma das fontes de receitas mais limpa, de baixos custos e importantíssima para a região -- o turismo! Do outro lado dos argumentos, mais produção energética, cujo aumento, todavia, não parece ser suficientemente significativo para ombrear com o que se perde com a construção da barragem.
O curioso nesta história é que na margem direita do rio irrompeu já um estradão para a EDP e a Construtora Teixeira Duarte fazerem estudos geológicos para a implantação do paredão da barragem; e na margem esquerda, a Refer continua a investir nas obras de reabilitação da linha ferroviária do Tua, que, a ser construída a barragem (ainda não há decisão!), vai ficar parcialmente submersa! Sim, é no mesmo rio! E sim, é em Portugal. (Será que eles não se falam?!) O próprio Ministro do Ambiente já dá como certa a obra, curiosamente, mesmo antes de tomada a decisão quanto ao seu impacto ambiental! E tudo isto... com uma leviandade confrangedora!
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Compreende-se, pois, a indignação do autarca de Mirandela, o social-democrata Dr. José Silvano, que, tirante os membros das organizações ambientalistas, tem sido uma das poucas vozes criticamente lúcidas nesta matéria. Não se compreende é o silêncio, a este propósito, dos dirigentes do seu partido!
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