segunda-feira, 10 de novembro de 2008

120.000 professores em defesa… das famílias portuguesas!

Mesmo com o impedimento da divulgação dos números por parte da polícia (quem manda agora nas polícias?!), o que é facto é que decorreu mais uma inequívoca manifestação crítica da quase totalidade dos cerca de 150.000 professores portugueses face às políticas pseudo-reformistas do governo na área da educação. Ao contrário do que os mais apologetas meios de comunicação social querem fazer crer, os professores não foram a reboque dos sindicatos (antes usaram as suas estruturas organizacionais para lá estarem), não são todos comunistas(!), e não se limitam a reivindicar, refractariamente, principescos privilégios (que, de facto, não os têm!).
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Não, esses não são os professores que temos hoje nas nossas escolas e que Sábado se deslocaram a Lisboa, com esforços acrescidos para muitos que foram e voltaram no mesmo dia de Trás-os-Montes e Algarve. A educação é um fenómeno social bem mais complexo, que se não deixa compreender de uma penada por qualquer cidadão mais incauto, ávido de crítica fácil e em busca do "bode expiatório", muito menos por uma opinião pública, tantas vezes, superficialmente informada, sujeita à amordaçante propaganda governamental (quase "göebbelsiana") e, portanto, longe de estar suficientemente preparada para proceder a uma análise cuidada, objectiva e crítica.
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Não, os professores manifestaram o seu profundo, sério, reiterado e quase desesperado repúdio crítico face a questões bem mais fundamentais e estruturantes de uma escola realmente organizada no sentido do efectivo sucesso dos seus alunos, das quais, entre outras, salientaria as seguintes:

1. Os professores criticam as políticas inculcadoras de um ambiente de facilitismo nas escolas, de desresponsabilização perante as aprendizagens e falseadoras dos resultados e, portanto, das aprendizagens dos alunos -- qual onda de analfabetização oculta, embora diplomada, que está já a atingir, sobretudo, os alunos de famílias mais desfavorecidas, que estão, muitas vezes, em absoluta dependência de uma escola que os faça realmente aprender o fundamental para crescerem como seres humanos e se adaptarem a este mundo exigente;

2. Os professores criticam as alterações (mais uma) ao próximo concurso de professores, que exigirá que os professores concorram obrigatoriamente a 25 escolas e 4 Quadros de Zona Pedagógica (grosso modo, distritos), voltando a colocar em causa a tão importante estabilidade do corpo docente nas escolas, pois só ela permite trabalhar em torno de projectos educativos reais e não virtuais (apenas para inspector ver!);

3. Os professores criticam uma avaliação cheia de erros incompetentes – de quem (por ressentimento?!) não só copiou o modelo mais “pesado”/burocrático que se conhece (o do Chile, quando podia ter copiado, por exemplo, o da Alemanha!) como ainda o agravou mais, transformando-o num processo quase kafkiano –, dos quais se destacam os seguintes:
3.1. avaliação dependente do sucesso dos alunos (um professor será avaliado tanto melhor quanto maior for o sucesso; se, por exemplo, uma turma começar o ano na sua disciplina com 2 alunos com classificações negativas do ano anterior, o professor poderá ser Muito Bom se esta acabar apenas com uma negativa, ou Excelente se acabar sem negativas!);
3.2. avaliadores sem qualificações científico-didácticas para avaliar o desempenho lectivo dos avaliados (por exemplo, um professor de História não tem, não pode ter, nem tem que ter conhecimentos científicos e didácticos para avaliar um professor de Filosofia, para não dar exemplos cuja disparidade é mais gritante!)

E a lista poderia continuar. Mas o essencial é que os professores, ao contrário do que os ressentidos críticos afirmam preconceituosamente e sem pudor, por um lado, querem uma avaliação que poderá até ser mais parecida com esta do que com a anterior e, por outro lado, estão profundamente preocupados com os alunos… que estão a ficar sem professores e sem ensino de qualidade.

A manifestação de professores de Sábado último – a 4.ª maior manifestação em absoluto após 1974 e a maior de uma classe profissional até hoje realizada em Portugal – foi empreedida, pois, em séria defesa das famílias portuguesas, principalmente das mais desfavorecidas. Felizmente, não são os teimosos e incompetentes, frios e distantes, autistas e arrogantes governantes que estão nas nossas escolas a orientar os milhares de crianças e jovens nos mais decisivos momentos das suas vidas. São os professores.

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