sábado, 15 de novembro de 2008

Professores (também são) instigadores da desobediência juvenil!!

Como professor, se tivesse tido oportunidade (o que, por acaso, não aconteceu) até teria aconselhado os alunos a não fazerem greve, não porque não haja motivos, mas por a greve se tratar de um acto político muito sério e que implica uma consciência política que a maioria dos alunos não tem, não pode ter, nem tem que ter.
.
Contudo, o mais lamentável de toda esta história é, mais uma vez, o aproveitamento político, a contra-informação aliada e a desinformação preguiçosa, que vão apedrejando uma suposta "Maria Madalena" -- os professores -- na praça pública, mas que, supondo que esta é pecadora (?!), será uma entre muitos, ávidos estes, porém, de simplesmente atirar pedras... atirar pedras... atirar pedras!
.
Mas a verdade é que parece que se tratou de mais um movimento espontâneo e desencadeado através das novas tecnologias de comunicação. E se alguns professores houve a encorajar os alunos, terão sido poucos (e, em tempo de guerra, também não interessa nada saber porque o terão feito!). E, ainda assim, se o fizeram com a lisura do esclarecimento e com os olhos postos no valor da justiça (afinal, estão lá -- em breve, só nas "horas vagas"! -- para ensinar valores!) é, no mínimo, discutível que tenham cometido um mal inexpiável!

2 comentários:

Anónimo disse...

Que vergonha!... Que opinião mais ordinareca... Desde quando é que os meus filhos têm de estar numa aula, ou na escola, a ouvir os professores latirem as suas lástimas irracionais? Desde quando é que um professor se pode queixar de ganhar 1500 euros num país como o nosso?! Meu Deus, vocês tiraram apenas uma reles licenciatura...vocês são professores e mais nada! Quem é que vos faz pensar que vocês são especiais? Estão a tentar diminuir o empenho e a boa vontade da Sr.ª Doutora Maria de Lurdes Rodrigues?! Basta que um jornal qualquer torne mais uma vez públicos (só para lembrar o pessoal) os benefícios, a vida à fartazana, a burocracia de que se queixam (e que nada tem a ver com o quotidiano asfixiado de trabalho de milhares de portugueses...), os salários, as benesses dos professores, para que a opinião pública manifeste calorosamente o desdém que vos vem prestando e que vocês teimam em ignorar... A ministra fala como fala - bem - porque foi eleita por Portugal - não por uma classe de totós que se julgam uma grande coisa... vocês são APENAS professores - nada mais. Há polícias, há enfermeiros, há bombeiros, há engenheiros para quem as vossas manifestações são um insulto!!! O que é que vos faz sentirem-se diferentes? A vossa oca prepotência... que miséria! Acordem: os portugueses não vos detestam, mas vocês prestam-se bem a esse sentimento... é vê-los de duas maneiras nas manifestações: aquelas caras de parvas - de gente muito, muito mal formada: a falar mal, mas convencida que é Dr.ª; a falar dos problemas de indisciplina, convencida que o problema é dos "outros" (dos pais, da sociedade, etc....); umas labregonas que subiram na vida encostadas aos aquecedores das salas de aula, com salários de 1500 euros, meu DEUS!!!! - dizia eu, essas caras de parvas, mas vestidas com roupa de marca, como poucas pessoas se prestam hoje em dia a fazer... ou então aparece aquel anormalóide do Mário Nogueirita, enfezado de pensamento e de postura, e a sua hoste de camisolas de 80 euros sem marca... coitados!!! é o povo!!! Espero que ao ler isto sinta pelo menos 1 milésimo do ódio que tenho à vossa indignação, e que esteja ciente de que eu, e muito outros com quem falo diariamente, não nos calaremos nas vossas revoltas contra as políticas do governo - há gente que quer um país melhor! O resto é ruído, ou seja, grunhidos de uma prepotência volátil que aqui certamente não encontrará poiso! Portugal merece uma avaliação exigente dos Professores!!! TRABALHEM - O TRABALHO NUNCA MATOU NINGUÉM!!!

Miguel Portugal disse...

O anónimo não percebeu (é natural -- a ira tolda o entendimento!). Os professores não só não falam com os seus alunos sobre greve às aulas por causa da brilhante peça jurisprudencial e educativa, que é o novo estatuto do aluno, muito menos sobre o rumo facilitista, empobrecedor e segregacionista da educação em Portugal, tão-pouco sobre o complexo e minado de subterfúgios do eduquês, que é o novo regime de avaliação de desempenho.

De qualquer modo, o seu elegante comentário crítico não apresenta qualquer contra-argumento às concretas reivindicações e críticas dos professores às políticas da Sra. Doutora MLR.

Limita-se a falar de salários. Sim, há professores que ganham demais, face ao seu fraco desempenho; mas há, por exemplo, médicos que ganham exponencialmente bem mais e são capazes de passar uma noite de "banco" nas suas acolhedoras casas e, quando são chamados, lá vão aturar o doente, que teve que esperar, a sofrer, mais um pouco, muito pouco, pelo sr. doutor. Acontece que os prpofessores não reinvindicam melhores salários.

Falou da roupa que vestem. Tem razão, um profissional cujo desempenho é vital na vida das crianças e jovens (cujos pais, muitas vezes, por várias razões, estão ausentes!) não deve vestir-se... deviam andar todos nus, seus "totós" ("palermas", por acaso, ficava melhor)! É, de qualquer modo, sim senhor, uma questão pedagógica de fundo e os professores chegaram ao limite da manifestação de rua, em breve da greve, por causa da roupa de marca que querem vestir; tem razão, querido!

Em suma, o anónimo está refém de um ressentimento básico contra os que o quiseram conduzir da barbárie à cultura, da ignorância à sabedoria (tê-lo-ão conseguido?!), aliás, disseminado um pouco pelas pessoas que, naturalmente, não estão na posse de toda a informação, mas que -- e isso e compreensível -- se deixam facilmente conduzir pela contra-informação e até pela observação atenta do comportamento de um, dois ou três professores concretos que conhecem (eu conheci, até hoje, mais do que isso!) que não é adequado à missão basilar que (deveriam) cumprir.

Mas o que era necessário, neste momento, era compreender (dá trabalho, dá!) que muitos professores estão preocupados com duas coisas centrais: 1. o rumo empobrecedor do ensino em Portugal (se houver vítimas, não serão, com certeza, os professores, que até ganham bem!); 2. diante da necessidade de uma avaliação justa, rigorosa e adequada às finalidades que se propõe (aperfeiçoar o ensino nas escolas públicas), temos um modelo burocrático, injusto e que tem como reais (embora, pelos vistos, veladas para o comum dos mortais!) finalidades constituir mais um instrumento de poupança das finanças públicas e um instrumento de esvaziamento do ensino somente a pensar nas estatísticas para papalvo ver, com claras (pelos vistos, não para todos!) repercussões altamente negativas para... os alunos, as famílias, os portugueses futuros cidadãos, que vão continuar a distanciar-se, em termos de efectiva (não virtual) formação de qualidade face a muitos outros por esse mundo fora (não, já não é só na Europa que os jovens são melhores que os nossos!).

Mas, uma das hipóteses prováveis -- além de se vir a perceber que há que esquadrinhar outro modelo de avaliação e repensar o rumo da educação -- é continuarmos teimosamente este rumo e este modelo. Seja. Como professor, continuarei a exercer uma actividade altamente prazenteira e vital (embora não tão reconhecida como isso), com toda a naturalidade, e não serão os meus descendentes a sofrer com esta teimosia. Já outros... Se assim for, bom... cada um tem o que merece! Mais não podemos fazer!