segunda-feira, 31 de março de 2008

Um "novo" génesis?!

A DREN propõe ("ordena"!) uma reflexão às escolas sobre o uso de telemóveis (e outros) durante as aulas. Fantástico! Quase ninguém se teria lembrado de uma coisa dessas! Principalmente o timing... é genial!!
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Que essas reflexões -- obviamente tardias -- tenham como resultado uma efectiva resolução deste problema muito mais simples de resolver do que por vezes se faz crer: políticas educativas realmente exigentes (no melhor dos sentidos!), regulamentos internos das escolas adaptados à realidade, alunos e pais consciencializados da importância da medida, professores disponíveis para muito serena mas firmemente aplicar e fazer aplicar as regras e conselhos executivos/directores igualmente firmes no sentido de fiscalizar a coerência e equilíbro da aplicação da norma.

Não podem é ser admissíveis, de modo algum -- independemente dos erros políticos das últimas décadas em matéria de educação --, as falhas relatadas e conhecidas, em muitas escolas, cometidas por professores relativamente ao uso de telemóveis... nas salas de aula! Afinal, o exemplo é, indiscutivelmente, um instrumento determinante na educação para os valores.

Sejamos veritativos: o ambiente de permissividade e impunidade que se tem vindo a criar na sociedade portuguesa em geral e, em particular, no sistema educativo público conduziu ao laxismo de todos:

1. do ME, responsável pelas políticas educativas irresponsavelmente experimentalistas, demasiado centralistas e permissivistas, orientado pela filosofia do "bom selvagem", vulgo "coitadinho!";
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2. dos pais, que, tendencialmente e em geral, têm abandonado os filhos à escola, cujo efectivo valor, por vezes, parecem desconhecer;

3. e também de algumas escolas e professores, que se têm demitido da sua saudável e vital autoridade, em parte por causa das políticas educativas errantes, mas em boa parte também por demissão de responsabilidades e, portanto, alguma falta de ética profissional -- poderia, tantas vezes, fazer-se mais e melhor...! (É compreensível que este ambiente geral de permissividade e desresponsabilização tenha afectado as escolas e os professores; mas tal não deveria ter acontecido de modo, por vezes, tão gritante; os professores deveriam ter tido mais força, segurança e dignidade pedagógica e profissional para se não terem deixado apanhar nesta gigante e pegajosa teia deprimente.)

Fica a ideia que a vida (que começa na escola!) vai começar agora... Ou ainda não será desta?!

sábado, 29 de março de 2008

Avaliação de desempenho -- afinal, seguimos o modelo do Chile!

Um dos argumentos utilizados pelo governo de José Sócrates para suavizar o impacto das alterações ao Estatuto da Carreira Docente, designamente no que toca à avaliação de desempenho, foi afirmar que este seria um modelo que seguiria, muito de perto, aquilo que se faz nos países da Europa. Nada mais falso (nem esta acertaram!).

O nosso actual modelo de avaliação de desempenho, irracionalmente demasiado pesado, com imperfeições perfeitamente evitáveis e altamente burocratizado -- retirando tempo precioso aos professores para exercerem o seu trabalho pedagógico -- é muito semelhante ao que entrou em vigor no ano lectivo de 2004/2005... no Chile! (Via profavaliação, de Ramiro Marques.)

Revelador, mais uma vez, de incapacidade política para implementar (muito diferente de impor!) verdadeiras reformas. "Não havia necessidade...!!"

A frieza da implacável verdade

De se lhe tirar o chapeu, este texto de Mário Crespo. Sinteza, com a inteligência e sabedoria a que há muito já nos habituou, as falhas políticas retumbantes de Maria de Lurdes Rodrigues à frente do ME:

1. aprofundamento do experimentalismo pedagógico baseado no devastador romantismo ingénuo (tão "querido" à utopia socialista), altamente comprometedor do futuro de milhares de crianças e jovens, bem como do país;

2. atentado inacreditável à dignidade profissional de toda uma classe profissional demasiado importante para o país, demonstrando uma incapacidade larvar de... fazer política; por muito necessárias e urgentes que fossem as reformas na Educação, MLR foi capaz de deitar tudo a perder...;

3. e, para rematar, um irresponsável mascaramento da realidade da escola pública, designadamente no que toca às condições necessárias para o exercício da autoridade docente, que tem vindo a decair ao longo dos últimos anos até "bater no fundo", como agora parece ter sido consciencializado pela sociedade (bom, por alguns, não pelos maiores responsáveis, infelizmente!).

De facto, só mesmo uma daquelas razões que a razão desconhece pode manter MLR no cargo, com consequências terríveis para o país. A melhor (e verdadeira) oposição ao governo, em grande e respeitável estilo!

sexta-feira, 28 de março de 2008

Indignação perante indisciplina, de... Ana Gomes!

A eurodeputada socialista Ana Gomes indignou-se com a violência nas escolas portuguesas. Fez uma mea culpa por empréstimo! E fez uma crítica justíssima e directa aos seus congéneres partidários, que seria suposto ocuparem funções de responsabilidade política na área da educação! Como seria bom que os políticos que ocupam cargos públicos em Portugal tivessem esta frontalidade! (Nota: mesmo quando, substancialmente, não concordamos com uma pessoa, temos o dever de com ela concordar, quando, em particular, é o caso.)
A eurodeputada socialista defende, como muitos (alguns outros socialistas, inclusive!), medidas disciplinares verdadeiramente sancionatórias para os comportamentos inteiramente reprováveis e a banir das escolas, que têm sido protagonizados por uma série de infelizes e abandonadas crianças (pelos pais, pela sociedade e pelo Estado!). Tem razão. O que é necessário é apenas (o que já é tanto...!) tomar uma decisão sobre o que, afinal, tem, efectivamente, valor. Porém, nem todos parecem capazes de o fazer -- será medo?! Ignorância? Ou indiferença?!!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Os meninos (e os adultos!) do telemóvel

A menina do "dá cá o telemóvel" e o "pseudo-cineasta cínico-oportunista" serão sancionados com a transferência de escola, sanção máxima prevista no estatuto do aluno. Vão ficar todos arrependidos...!

Numa civilização verdadeiramente assente em valores fundamentais como a educação, a responsabilidade (e não apenas mera liberdade vazia!) e a justiça, os encarregados de educação destes jovens deveriam ser igualmente responsabilizados pelos actos terceiro-mundistas dos filhos.

Não devem, pois, ser escamoteadas a falha educacional retumbante da mãe da Patrícia, mas também a falha técnica inadmissível da professora, que terá confessado que autorizou os alunos a manterem os telemóveis ligados, permitindo-lhes que ouvissem música (a Patrícia terá extravasado a ordem atendendo uma chamada da mãe!!):
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1. Uma mãe que preza a sua função maior de educadora não telefona para a filha, quando sabe (deveria saber!) que esta se encontra numa aula e, portanto, não pode atender o telemóvel!! Se os pais, adultos, não sabem lidar com o objecto "maravilha da técnica", como é que os jovens adolescentes poderão saber? A mãe é corresponsável do acto incompleta e, portanto, injustamente sancionado.

2. A professora deveria saber, que, em circunstância alguma, o aluno tem o direito de efectuar qualquer actividade que aliene a sua atenção indispensável para aprender - afinal os alunos não frequentam as aulas com outro fim, senão o de aprender! Não posso deixar de estar solidário com a colega. Mas sou obrigado, em rigor, a dizer que a professora cometeu uma falha técnica imperdoável. Errare humanum est; mas falhar tecnicamente é incompetência! As crianças e jovens apenas fazem aquilo que se lhes permite que façam. E óbvio que aquele uso limitado do telemóvel (já tecnicamente incorrecto) iria resvalar para outros comportamentos ainda mais desviantes. Em rigor, pois, a professora também é corresponsável. Seria importante ver o que consta do Regulamento Interno da Carolina Michaëlis acerca do uso de telemóveis nas salas de aula. Se é omisso, tem uma lacuna lamentável e, hoje, completamente injustificada.

Em suma: as sanções aos actos dos jovens são adequadas (tendo em conta o actual Estatuto do Aluno, claro!); ficam por apurar as responsabilidades dos adultos envolvidos, bem como fica por saber se o estatuto do aluno concede autoridade suficiente ao professor para efectivamente educar, quando é necessário fazê-lo!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Indisciplina grave nas escolas – um problema de interesse público

O PGR mandou abrir um inquérito a propósito do ocorrido na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto. Trata-se de averiguar se houve ou não crime de ofensas físicas e crime de injúrias à pessoa da professora.

O Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, criticou ontem, no programa “Dia D” da SIC Notícias, esta decisão do PGR, alegando que se trata de um exagero e que o MP deveria antes preocupar-se com a alta criminalidade e não dar tanta importância à pequena criminalidade, defendendo ainda que deveria ter sido, se assim fosse o seu desejo, a lesada a apresentar queixa e não o MP.

O PGR fez bem. Marinho Pinto não tem razão. E não tem razão porque ao ser encetada uma investigação pelo MP (e atenção: não há ainda crime, há apenas uma investigação criminal e a jovem deve naturalmente procurar um advogado para defender os seus interesses), isto será um importante sinal para a sociedade de que se trata de um acto altamente reprovável, assumindo assim o papel, que a lei e as instituições judiciais também têm, de dissuasão de comportamentos reprováveis.

Seria bom que se compreendesse que não se trata de um acto isolado. O problema da indisciplina começa, de facto, a ser grave nas nossas escolas. E seria bom que se compreendesse também como se trata de uma questão de grande interesse público (Marinho Pinto parece esquecer que agora os crimes cotra prodfessores são crimes públicos e, portanto, não necessitam de apresentação de queixa para despoletar a investigação). O que acontece quando há comportamentos indisciplinados daquele tipo é que isso coloca radicalmente em causa as condições de possibilidade de existência de uma aula, com prejuízo para o professor e, sobretudo, com grave prejuízo pedagógico e educacional para os outros alunos. Por isso, o MP deve actuar no sentido de lançar a ideia de que não há (porque não pode haver) impunidade, quando as condições básicas do exercício da actividade docente estão em causa, acrescidas de ofensas à integridade física e moral do professor. E isto é assim, como seria se, por exemplo, os médicos começassem, por suposto, a serem alvo de comportamentos por parte de alguns utentes que pusessem em causa as condições do exercício da sua profissão e a sua própria integridade física; o mesmo, se fosse o caso com juízes ou advogados. Se tal começasse a erigir-se como um fenómeno recorrente na sociedade, como é agora o caso, seria, pois, o interesse público que estaria em causa, justificando-se, naturalmente, a actuação do MP.
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Outro dos argumentos críticos de Marinho Pinto é o de que o MP não deve actuar conforme as agendas mediáticas. Ora, o que não podemos esquecer - e Marinho Pinto deliberadamente esquece - é que justamente a comunicação social é uma mais-valia importantíssima para a democracia, precisamente porque chama a atenção para injustiças, que, como é o caso, ficariam ocultas e, portanto, muito dificilmente teriam a relevância e o tratamento adequados e merecidos. Porque não haverá de servir a comunicação social como meio de acesso a acontecimentos que indiciem algum ilícito e que o MP tem a incumbência de avaliar?
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Por outro lado, é claro que é altamente reprovável o registo videofónico, pelos alunos, de uma aula (embora, neste infeliz e vergonhoso caso, tenha sido "um mal que veio por bem"!). O aluno que filmou a triste cena terceiro-mundista deverá, naturalmente, ser também alvo de um procedimento disciplinar! Mas quando a "normalidade" estiver reposta nas salas de aulas das nossas escolas, onde os nossos filhos entram, supostamente, para aprender humanidades, artes, ciências e tecnologias..., não haverá mais telemóveis a filmar o que quer que seja, pois não haverá mais telemóveis ou quaisquer outros meios óbvios de alienação da atenção indispensável para aprender!

Mas o que é realmente grave é que o problema da indisciplina crescente de crianças e jovens nas escolas não deveria ter chegado ao ponto de ter que ser o PGR a… educar os meninos! Essa é uma função, antes de mais, da família e depois, num segundo plano, da escola. É necessário que a família recupere rapidamente a sua funcionalidade socializadora e normalizadora e que à escola e aos professores seja devolvida mais autoridade. Os responsáveis, que assumam as suas responsabilidades!

Solução “a la carte”!

Valter Lemos veio propor – alguma coisa tinham que dizer/fazer! – que agora as escolas podem contratar técnicos (psicólogos e mediadores de conflitos) para resolver os problemas de grave indisciplina. É curioso como Maria de Lurdes Rodrigues tem vindo a dizer que não há indisciplina! Afinal, há ou não há!?

É, de qualquer modo, uma boa meia-solução. Mas, caso fosse uma solução de fundo, bem pensada e articulada – coisa que não é –, teria previsto a inclusão dos pais, no sentido de os ajudar a lidar com estas crianças-aprendizes-de-marginal, disponibilizando-se informação, dissuadindo-se e, inevitavelmente, responsabilizando-se os pais, que não deixam de ser encarregados da educação dos seus filhos!

Caso se não incluam os pais (encarregados de educação) neste tipo de intervenções, tal não passará de mais cosmética para mascarar o problema. E a vontade política parece, infeliz e inexplicavelmente, ser essa!

Estilos parentais e comportamento social das crianças

Desde os anos setenta do séc. xx (Diana Baumrind 1971, 1980) que em Psicologia se fala em três estilos parentais, três formas de educar – pais autoritários, pais permissivos e pais autoritativos (ou de estilo democrático):

1. Os pais autoritários são rígidos e punitivos e valorizam a obediência não questionada por parte dos filhos; têm padrões inflexíveis e desencorajam expressões de discordância.

2. pais permissivos dão aos filhos pouca orientação ou orientação inconsistente e, apesar de carinhosos, exigem pouco deles.

3. Os pais autoritativos são firmes, estabelecendo limites para os filhos; à medida que as crianças crescem tentam, utilizando um discurso racional, explicar as coisas às crianças; ambém estabelecem objectivos claros e encorajam a independência das crianças.

Apesar de existirem muitas excepções, foi verificada uma correlação entre estes três estilos de educação e três tipos de comportamentos diferentes nas crianças:

1.1. Os filhos de pais autoritários são normalmente pouco sociáveis, pouco amigáveis e relativamente retraídos.

2.1. Os filhos de pais permissivos são imaturos, de humor inconstante, dependentes e com pouco autocontrolo.

3.1. Os filhos de pais autoritativos estabelecem boas relações sociais, são fáceis de se gostar, são autoconfiantes, independentes e colaborantes.

É claro que as crianças nascem com uma disposição básica e inata para se comportarem de um certo modo, o que se chama temperamento: algumas crianças são naturalmente mais descontraídas e bem-dispostas, enquanto outras são mais conflituosas e irritáveis. O tipo de temperamento com que um bebé nasce pode, até certo ponto, provocar, inclusivamente, certos estilos de educação nos pais (Goldsmith et al, 1987; Goldsmith e Harman, 1994; Kendler, 1996).

De qualquer modo, a educação da criança é o resultado da filosofia da educação em que os pais acreditam, as suas práticas específicas e as características da sua personalidade e personalidade dos seus filhos. Ou seja, o comportamento social das crianças, como acontece em outros aspectos do desenvolvimento, é o resultado de uma interacção complexa entre factores genéticos e ambientais. (Maccoby, 1992; Gottlieb, 1996; Kagan, 1997)

Apesar de não haver determinismo, a correlação entre estilos parentais e comportamento social das crianças é claro. Uma das causas do problema da indisciplina nas nossas escolas está, pois, identificado (a outra é o clima geral de permissividade e consequente falta de autoridade dos professores). Há, portanto, fortes e seguras razões científicas para se apostar numa solução política para a indisciplina nas escolas, que passe por uma intervenção informativa e dissuasora junto dos pais (que poderia começar com uma campanha de sensibilização), para que os seus filhos tenham, efectivamente, um futuro melhor. E são sempre os mais desfavorecidos que mais necessitam de ajuda em termos de uma equilibrada, mas presente, autoridade.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Afinal, os ingleses têm os mesmos pais problemáticos!

Os jornais ingleses The Guardian e The Daily Telegraph publicaram, no Sábado passado, as conclusões de um estudo encomendado pelo National Union of Teachers (Sindicato Nacional de Professores), muito a propósito de um dos nossos maiores problemas em muitas (para não dizer todas!) das nossas escolas: a relação entre o bullying e pais indulgentes.
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Eis as conclusões do estudo (via ramiromarques):

«O mau comportamento nas escolas é alimentado por pais "super indulgentes" que não sabem dizer não aos seus filhos, de acordo com os estudos. Os professores estão a lidar com um "pequeno mas significativo" número de alunos que fazem birras na aula quando a sua vontade não é satisfeita, ficam exaustos porque se deitam tarde e têm pais "beligerantes" que tomam o partido dos filhos contra os professores. "Estes pais, eles próprios sob pressão social e muitas vezes incapazes de lidar com o comportamento dos filhos, podem ser muito agressivos, por vezes recorrem à violência para proteger os interesses dos filhos." Os professores descreveram pais "altamente permissivos que permitem tudo para não se aborrecerem e que não recorrem a sanções ou incentivos."»

Como há muito se sabia já, na origem de muitos comportamentos desajustados de muitas crianças (inocentes, naturalmente) encontra-se uma enorme, preocupante e devastadora incapacidade de educar protagonizada pelos pais. Até os ingleses têm problemas com... os pais! A diferença é que já identificaram uma das (senão a principal) origens do problema!

É claro que este é um problema sério e que requer atenção por parte do ME. Infelizmente, apenas a teimosia arrogante e irresponsável do ME impede de ver como o actual Estatuto do Aluno só vem engrossar o problema e não é, evidentemente, solução para coisa nenhuma (a não ser para as estatísticas, claro!). Para ser parte da solução deveria, naturalmente (e penso que já muita gente percebeu isso, menos os responsáveis ministeriais), ser menos permissivo e perver efectivas sanções para os casos em que elas sejam necessárias. Mas o problema não se resolve apenas com outro estatuto para o aluno. Urge enfrentar o problema com medidas sistemáticas de esclarecimento, dissuasão e, em limite, sanção de comportamentos claramente irresponsáveis por parte de alguns pais e encarregados de educação.

"...Os pés pelas mãos!"

Inqualificável. Afinal, já toda a gente percebeu para que servem os secretários de estado - para olear a propaganda! O problema é quando se escorrega e se dá uma grande queda...
Espera-se, apenas, que a queda tenha sido perceptível. Mas tal não é líquido - afinal, o povo não é assim tão especialista como isso em legislação disciplinar aplicável nas escolas que os próprios filhos frequentam!

sexta-feira, 21 de março de 2008

Eureka!

Com todo o devido respeito, mas cabe dizer, diante de continuados comportamentos inadequados de muitas crianças e jovens que frequentam muitas escolas e atitude geral completamente contraproducente de muitas famílias, que... a CONFAP descobriu a pólvora! Afinal, parece que agora(!) os pais devem educar os seus filhos a terem comportamentos adequados para frequentarem as escolas!
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(Quanto ao uso de telemóveis ou outros objectos propiciadores de distracções por parte dos alunos há, simplesmente, que criar regras claras e coerentemente aplicadas nas escolas portuguesas, coisa que há décadas acontece já no estrangeiro, com a própria e natural conivência dos próprios alunos! E claro que os pais, depois de devidamente explicadas, terão que ser corresponsáveis pela implementação destas regras.)
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Talvez este tipo de apelos peque por tardio e isoladamente ineficaz. As crianças e jovens merecem mais e melhor das associações de pais, dos pais e do próprio governo, que talvez não fosse má ideia se começasse a pensar numa boa campanha de sensibilização e, em limite, em medidas dissuasoras/sancionadoras para pais de crianças e jovens mais fortemente prevaricadores.

Tibete irremediavelmente esquecido

A propósito da questão tibetana é necessário, antes de mais, recordar os factos do etnocídio e mesmo genocídio cometidos pela China, desde há meio século (leia-se uma síntese que elaborei, aqui).

Depois dessa rememoração ninguém ficará, certamente, indiferente à causa tibetana e estará mais facilitada a compreensão dos protestos dos últimos dias, bem como a ideia de que um apelo a um boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim seria uma forma de luta perfeitamente legítima e justa – trata-se, afinal, do direito à auto-determinação de um povo dilacerado por atropelos hediondos aos tão caros direitos humanos e profundamente atingido na sua mais íntima dignidade cultural e (literalmente!) existencial.

Mas os estados que formam a civilização onde brotaram e têm sido defendidos (teórica, política e institucionalmente) os direitos humanos, há muito que parece já terem optado pelos direitos ao comércio e ao lucro em detrimento dos poéticos (ao que parece, particularmente neste caso do Tibete!) direitos humanos. Afinal, a China é um mercado demasiado grande e promissor para se correr o risco de se perder em favor de uma “mera” defesa de direitos humanos de um povo tão “estranho” e comercialmente pouco atraente!

sexta-feira, 14 de março de 2008


Leituras…


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…de Jonathan Wolff, Porquê Ler Marx hoje? (Lisboa: Cotovia, 2002).

Karl Marx (5-5-1818—14-3-1883) morreu há 125 anos. (Links para Marx aqui e aqui). Vale a pena ler Marx hoje? A melhor homenagem que se pode fazer a um filósofo do passado é justamente perguntar pela actualidade filosófica do seu pensamento. Se valer a pena ler Marx, hoje, é porque Marx nos fará ainda pensar sobre questões centrais para a nossa existência como seres com outros. J.W. pretende mostrar nesta obra – fruto das suas lições no University College de Londres sobre a Filosofia Política de Marx – que é esse o caso: apesar do falhanço das soluções comunistas e das dificuldades do pensamento político e social marxista, as suas objecções essenciais ao liberalismo e capitalismo não deixam de continuar a fazer-nos pensar e a alimentar alternativas teóricas plausíveis de compreensão de questões centrais de justiça e organização social, económica e política da sociedade.

Contra a ideia pressuposta da inutilidade da leitura, hoje, de Marx, J. W. argumenta que podemos separar o Marx crítico da actual sociedade, do Marx profeta da futura sociedade, fazendo sobressair o primeiro.

Claro que o encontro autenticamente filosófico com Marx deve ser igualmente crítico e desapaixonado!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Nem mesmo com a sabedoria do próprio Veiga Simão?!

Mesmo para quem não se quadra pelo socialismo, antes se coloca sob um domínio liberal do pensamento e da acção política, como é o meu caso, o texto do ilustre ex-deputado socialista Veiga Simão, referido no post anterior é, no mínimo surpreendentemente lúcido...

Para aguçar o apetite, veja-se como é bastante improvável, para quem conheça a fundo o nosso actual e real sistema de ensino, não concordar, em geral, com este excerto (não dispensa a leitura integral!):

«O espírito reformista do actual Governo é compreensível e justificável, mas a qualidade na educação e formação só se conquista se esse espírito for partilhado com os professores e outros actores educativos e não ser pertença exclusiva de governantes.

Estes breves apontamentos significam afinal que as mudanças se concretizam nas suas consequências e, naturalmente, na criação de ambientes propícios à qualidade, à excelência e ao empreendedorismo.

MEDIDAS URGENTES

Do que referimos elegemos como medidas para melhorar a educação e formação:

-Reflectir sobre o conceito de educação e formação ao longo da vida interligando-o com uma filosofia de desenvolvimento sustentável e de coesão social e com a competitividade de Portugal na UE-25, integrando as nossas instituições educativas e formativas em plataformas de conhecimento ou pólos de competitividade e tecnologia regionalizados e internacionalizados;

-Conferir maior autonomia à escola e à universidade, permitindo diversidade nos modelos de governação e flexibilidade na sua organização, com representatividades adequadas ao ambiente onde se inserem e à sua missão e funções a nível regional, nacional, europeu e/ou internacional; nobilitar a escola e prestigiar o professor como obreiro de criação e transmissão do conhecimento e dar voz ao cidadão;

-Construir sistemas de avaliação independente que permitam a avaliação do desempenho institucional, dos cursos e dos professores, em consonância com agências nacional e internacionalmente credíveis; intensificar os processos de auto-avaliação como elementos imprescindíveis do processo de avaliação;

-Intensificar a cultura científica e, em particular, a observação e criação científica e o ensino experimental;

- Emagrecer, o poder político, libertando por um lado, a escola e a universidade e por outro, o Estado de múltiplas paralisias burocráticas, respeitando a autonomia criadora e responsável; assim seria suficiente um único Ministério, na prática um Brain Trust, a tutelar a educação, incluindo ensino superior, a formação e a ciência; (a dimensão actual seria reduzida a 30%) fortalecer, ao mesmo tempo, os poderes estratégicos de regulação e fiscalização do Estado num ambiente de concorrência saudável e de solidariedade activa;

-Contratualizar as escolas e as universidades, de acordo com as suas especificidades para se atingirem em dez anos metas nacionais expressas em indicadores de criação do conhecimento e inovação iguais, pelo menos, à média da UE-15; associar a esses contratos a cooperação científica de escolas secundárias, tecnológicas e profissionais com universidades e institutos politécnicos;

-Redefinir as carreiras docente e de investigação e construir novos modelos de formação, permitindo elevada mobilidade, designadamente nos futuros pólos de competitividade e de tecnologia, de modo a transferir o conhecimento para a empresa, para a administração ou para as entidades científicas e culturais, com oportunidade, estimulando o empreendedorismo; inserir doutorados nas escolas e nos designados territórios educativos;

-Realizar e credibilizar exames aos alunos no fim de todos os ciclos, como actos naturais de avaliação dos conhecimentos, de apoio ao percurso profissional dos alunos, e de incentivo ao mérito;

-Apostar na qualidade e na ambição pela excelência, velar para que as chamadas reformas não conduzam a facilitismos e a uma maior degradação do binómio qualidade-quantidade, o que nos arrastaria para uma posição intolerável no espaço europeu da educação e formação.»

terça-feira, 11 de março de 2008

Começaram as (aparentes?!) cedências – prossiga o equilíbrio firme das reivindicações

Iniciou-se a fase das cedências! António Vitorino, juntando-se ao pequeno grupo dos mais sensatos do seu partido nesta matéria, como Manuel Alegre ou Veiga Simão (leia-se bem esta sua reflexão!), lá mostrou a sua classe e inteligência política, dando o mote para procurar salvar o que já parece não ter salvação!

Primeiro foi o Ministro da Presidência a deixar cair a pequena cedência. O próprio ME vê-se agora, mais do que alguma vez foi, verdadeiramente obrigado a dar mostras de alguma sensatez, começando timidamente a ceder ao óbvio e a ouvir as ideias dos professores: (que deverão ser) ponderadas, equilibradas, serenas, desinteressadas (nem interesse económico, nem corporativista, unicamente educacional, pois é de educação de que se trata!).

Demasiado cedo para gritar vitória. Prossiga-se na senda da argumentação serena das ideias ponderadas e das soluções equilibradas. (Cuidado: há por aí muitas emoções inquinadoras do debate!) A negociação com o ME não deve perder agora, decisivamente, o espírito reformista necessário, muitas vezes de contra-reforma, mas que se deve dirigir no sentido da efectiva modernização do sistema educativo. Urge pressionar com inteligência no sentido de salvar aquela que pode muito bem ser a derradeira escola do resto das nossas vidas! (É que isto de reformas, não sendo uma guerra, custa muitas vidas…gerações de alunos e professores que se perdem às mãos da experimentação pedagógica irresponsável!)

Esperemos que a arte da cosmética consiga, ainda assim, dar lugar a uma verdadeira cedência à reforma sensata! Veremos – e isto é um dado decisivo (porque pode ser uma “navalha de dois gumes”!) – como o ímpeto eleitoralista jogará, doravante, no teatro das decisões.

segunda-feira, 10 de março de 2008

100.000!


Não é apenas um número mágico. Tem significado político – afinal, 2/3 dos professores manifestaram a sua indignação e reprovaram as reformas da Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues.

Mas o significado político envolve uma dupla obrigação política:

1. Obrigará MLR a abrir-se ao diálogo efectivo (e não apenas ilusoriamente propagandístico!) com os professores, cedendo onde deve ceder, no sentido de rearquitectar aquilo que talvez ainda possa vir a ser uma verdadeira e necessária reforma educativa – basta, pois, de reformas confusas, irresponsavelmente direccionadas para a ilusão das estatísticas e, portanto, tão indesejáveis, quanto mesmo, em tantos casos, inexequíveis, hipotecando cada vez mais o futuro, num tempo que deve ser de decisivo resgate à precariedade educativa.


(daqui)

2. Obrigará, por seu lado, os professores a fazerem um esforço (mais um – este, derradeiro) no sentido de sistematizarem melhor as suas críticas, procedendo, de modo o mais organizado possível, a um levantamento de problemas do sistema de ensino actual em geral e, em particular, das suas escolas, bem como no sentido de pensarem profundamente nas possíveis soluções teoricamente arreigadas e técnica e concretamente exequíveis, no sentido de modernizar o sistema de ensino, o funcionamento das escolas e, com certeza, o desempenho geral dos professores (pelo menos de alguns ou em alguns momentos). Mas o objectivo essencial e último será sempre, decididamente, melhorar efectivamente os resultados das aprendizagens de conhecimentos e competências dos alunos. A avaliação de desempenho dos professores apenas fará sentido num conjunto mais profundo de reformas do sistema de ensino e avaliação dos próprios alunos. É claro que esta obrigação seria, naturalmente, do ME em exercício ou de um outro, alternativo, que na oposição se erguesse com propostas substanciais. Como o primeiro está a falhar profusamente e o segundo irresponsavelmente não existe – teremos que ser nós a fazê-lo!

sábado, 8 de março de 2008

Em protesto!


Apelo

Uma manifestação é uma forma de protesto/indignação, que espelha a liberdade política consagrada constitucionalmente e, portanto, constitutiva de uma organização democrática do poder político – é, em suma, uma das múltiplas formas de democracia participativa. Se as decisões não se tomam pela rua, a rua não deixa de ser um dos locais genuínos, porque públicos, de manifestação contra determinadas decisões. A sua leitura política deve ser feita conforme as circunstâncias sociais e políticas de modo ponderado, sereno e sempre com espírito de serviço público e sentido de estado.

Mas tal forma – democraticamente legítima – de protesto político é sempre orientada por emoções, quando o que está sempre em questão são razões. É por isso, não só que a manifestação de rua não é o único instrumento de participação crítica democrática demonstradora de indignação, como leva também consigo alguns “perigos” essenciais, designadamente de carácter comunicacional.

A grande manifestação de professores que se realizará amanhã tem como objectivo mostrar a profunda, legítima e fundada indignação de milhares de professores acerca das (muitas e desde há muito) más políticas educativas, que, embora travestidas de “soluções”, têm engrossado o problema do verdadeiro desenvolvimento do nosso sistema educativo e que agora parecem ter a sua parusia final.

Mas porque é de elevada monta o que está sob protesto, requer-se uma postura cuidada. Como professor, profundamente interessado e não menos preocupado com os aspectos negativos das reformas em curso e consciente daqueles “perigos”, gostaria de deixar aqui algumas sugestões sob a forma de forte apelo a todos os colegas manifestantes:

- sintam com emoção a nossa missão, mas conduzam-na com inteligência;
- sejam objectivos na manifestação, mas polidos na postura;
- sejam incisivos, mas serenos;
- sejam apaixonados, mas sábios;
- sejam verdadeiros, mas convincentes;
- lutem, mas com ideias;

Pela educação da verdade!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Polícia na escola... à procura de professores!

Compreende-se que as autoridades policiais procurem recolher dados sobre o número de professores que se possam vir a manifestar amanhã, dada a dimensão prevista e dadas as consequentes medidas de segurança e reorganização a tomar.

Não se compreende a forma como se tentaram obter tais informações: polícias à paisana, deslocando-se pessoalmente às escolas e, grotesco horrendus, solicitando a identificação de professores que iriam amanhã manifestar-se em Lisboa!

Pesa ainda neste acto abstruso de inaudita actuação de um Estado democrático, o facto de ter já ocorrido o mesmo erro antes. Com uma pequena correcção: a não ser outra coisa, tratou-se não de um erro (errare humanun est!), mas de uma grosseira falha técnica -- e falhar tecnicamente é incompetência.

É, assim, completamente inadmissível tal procedimento "pidesco" (como já alguém se lhe referiu!) e exige-se o apuramento imediato e cabal de responsabilidades políticas da tutela (espreite-se o que escreveu hoje a propósito Manuel Alegre!). E, caso habitássemos um país moderno, com seguros pilares éticos a sustentar a sua organização social e política, haveria lugar a um pedido oficial de desculpas aos professores em causa e à classe em geral, que, indirectamente, foi mais uma vez alvo, de forma completamente gratuita, de um simiesco atentado à sua integridade e dignidade profissional e pessoal.

Pensar a educação – pensar a política educativa (1)

Sinto que paira no ar uma complexa e paradoxal perplexidade: curioso é como muitos – comentadores, políticos sérios e população em geral – não sabem muito bem o que pensar realmente (e não me refiro apenas ao que dizem ou são “obrigados” a dizer) de todas estas alterações ao Estatuto da Carreira Docente, avaliação em particular, bem como da contestação dos professores. Há a clara convicção de que talvez esteja em curso uma das mais fortes instabilidades no sistema de ensino em Portugal. Mas há uma espécie de pudor em admitir também que talvez não seja apenas do lado do governo que está o desgoverno!

Pensemos nas contestações dos professores. Talvez alguns professores contestem, simplesmente porque desesperam pelo dia em que o seu trabalho seja efectivamente levado a sério. Como? Dotando-o dos instrumentos político-pedagógicos e materiais indispensáveis para que de um sistema de ensino se possa esperar que resulte em pessoas efectivamente qualificadas, instruídas e ética e profissionalmente adaptadas à vida adulta numa sociedade moderna, bem organizada, democrática e liberal!

Depois, haverá aqueles que engrossam de indignação porque está em curso uma mudança, que simplesmente os obrigará a fazer ajustes, alterações qualitativas, que incomodam.

Mas haverá também aqueles – poucos, é certo – que se manifestam porque sim, contra tudo... contra “a sinistra!”, como muitos (senhores professores, claro!) vociferam, sem a polidez de quem, tendo argumentos, não necessitaria de mais nada!

Mas há também os que não se manifestam – serão muitos?! – por que não há energia, hábito e/ou estofo intelectual para pensar, muito menos criticamente, sobre problemática tão complexa, como é a que encerra a sua própria missão – a educação e o ensino!

É claro que também há ainda uma outra quota – a dos “muito bons” e “excelentes” renegados, atrofiados pela pressão do disseminado medianismo rastejante! –, que, não indo em manifestações de rua, fica em casa a pensar que... ainda não será desta que vamos ter uma escola moderna, com profissionais destemidos porque qualificados e naturalmente enquadrados num ambiente serena e naturalmente competitivo (na melhor, que a há, acepção do termo), de quem, representando o seu saber, o procura com esforço e com empenho o dissemina e, confiante, se entrega a um processo de verdadeira avaliação – portanto, uma escola adaptada ao tempo e às efectivas necessidades dos alunos, que é, se alguém se lembrar ainda deles, claro, em serem alimentados!

Ponto crucial, pois, da contestação dos professores: havia (haverá ainda?!) muitos adormecidos na sua simples existência mais ou menos alienada, devido, simultaneamente, à falta de auto e hetero exigência no desempenho da profissão e à já tradicional ronronante e quase “apocalíptica” (não construtora, pelo menos!) forma de ser portuguesa, que faz atolar muita gente na acrasia e no vazio intelectual. Mas terão despertado para uma verdadeira reflexão auto e não apenas hetero-crítica acerca de políticas, mas também de práticas educativas? Estaremos nós, professores, a pensar – o governo já se viu que não – profunda e efectivamente na educação e, portanto, no futuro dos alunos enquanto neófitos carentes do mestre e no futuro do país enquanto sociedade organizada, em que faz sentido viver?

As políticas reformistas deste governo na área da educação têm sido manifestamente inconsistentes, sobretudo porque querem fazer crer, aos mais incrédulos, que se está a atacar na melhoria dos resultados. Nada mais errado: tudo se encaminha, paulatina e indolentemente, para que o facilitismo, há muito no terreno e com facilidades de implementação, se transforme em gordos números de ilusório sucesso. Eis o que resta do, ainda por cima, pior socialismo deste governo: a tirania da igualitarização e a doutrinação que lhe subjaz (tudo começa na escola!), que tolhe quantas crianças e jovens se apresentem pela frente – não saber, passar, passar e todos de modo igual, eis o lema!

A ideia é: já que muito árduo seria impor paulatinamente (e demoraria tempo, não eleitoral e orgulhosamente útil!) um maior rigor no ensino e aprendizagem, conduzindo as escolas, e dotando-as de efectivos meios (materiais e humanos), a melhorarem as suas intervenções, por exemplo junto dos alunos mais desfavorecidos, no sentido de estes virem a aumentar os seus conhecimentos e melhorarem efectivamente as suas competências testadas, não apenas continuamente, mas também em exames externos bem elaborados, então é melhor (politicamente mais fácil e visível!) reduzir efectivamente o nível de exigência dos conhecimentos e competências efectivamente apreendidos, para que aqueles que, por várias razões, incluindo as sociais, têm mais dificuldades em aprender, não estejam tão longe dos que as têm, apesar de tudo, menos. Se na hora de mostrar qualificações – para a vida pessoal, social e profissional – elas não existirem, alguém terá a culpa!

Mas, por outro lado, a situação educativa em muitas escolas por esse país fora – recorrendo aqui à amostra de uma dezena que frequentei como professor, de Évora a Chaves –, embora naturalmente com boas honrosas excepções, é lastimavelmente polvilhada de pequenas e consentidas incompetências (como acontece, aliás, em outros grupos profissionais!), algumas das mais bizarras e aberrantes que talvez seja difícil imaginar, plasmando assim a injustiça nos rostos de tantas crianças e jovens, que muito necessitariam dessa preciosa intervenção, se fosse séria, mas cujo futuro é, assim, também por tal, colocado em risco.

E há – como se vai começando já, devagarinho, a compreender – duas espécies de causas para esse mau funcionamento larvar de, pelo menos, algumas escolas, com consequências nefastas para alunos, pais e toda a sociedade:
1. naturalmente na sua base, a desorientação política, pois há muito que quem governa não tem investido em reflexão educativa, com a profundidade intelectual que a educação exige, para construir uma escola que fosse democrática, não apenas nas relações de força/poder que nela vivem, mas, sobretudo, na facilitação de efectivos conhecimentos e competências verdadeiramente libertadores e edificadores de futuro para crianças e jovens;
2. mas, apesar de tudo, também devido à inépcia e irresponsabilização indolente e consentida de muitos professores, que, desde o 25 de Abril, penso que talvez ainda não tenham encontrado verdadeiramente a sua real e profunda dignidade profissional.

Se, ainda assim, os professores são alvo de confiança dos seus concidadãos (lembremo-nos de estudo recente), como, v.g., os políticos não são, é por naturais generalizações mais ou menos apressadas do povo, em geral pouco esclarecido acerca de educação, para quem está, ainda assim, tudo bem na escola (!), mas também – sejamos justos – porque há bolsas de resistentes, de pessoas rectas e apaixonadas pelo múnus de ensinar e fazer aprender, que, apesar de tudo, continuam a lutar, não contra alguém, mas pelos alunos e pela sua própria dignificação pessoal e profissional.

Em suma: se o novo ECD é uma peça de poupança pública e não de política educativa (seguindo a lógica da racionalização de meios), pleno de incongruências e injustiças causadoras de prováveis e duradouras instabilidades nas escolas, perfeitamente evitáveis; se este novo modelo de avaliação, em particular, não escapa às críticas mais fundamentadas (outras há que, infelizmente, não têm consistência!); se os problemas da educação não se vão resolver perseguindo os professores; também é verdade que, do lado do desempenho docente há algo a fazer – tem é que ser sério. (Mas será que tem que ser imposto? Talvez!). O que se pede é que a educação, coisa séria, seja tratada com seriedade – como diz o povo: "doa a quem doer"! Ou esse rigor é só para os outros (políticos, médicos, juízes...)?! (Como nós gostamos de, por um lado, exigir dos outros, mas, por outro, também facilmente nos desculpamos com os vícios dos outros!)
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Não elegi nem vou, muito provavelmente, reeleger este governo. Mas, no que toca a políticas educativas (e outras) verdadeiramente reformistas, espero, sentado para me não cansar, por alternativas – substanciais, claro!

(Entretanto, sentado, vou aproveitando para trabalhar… e pensar!)

Dar a ler...

«I

Para sempre. Aqui estou. É uma tarde de Verão, está quente. Tarde de Agosto. Olho-a em volta, na sufocação do calor, na posse final do meu destino. E uma comoção abrupta -- sê calmo. Na aprendizagem serena do silêncio. Nada mais terás que aprender? Nada mais. Tu, e a vida que em ti foi acontecendo. E a que foi acontecendo aos outros -- é a História que se diz? abro a porta do quintal. É um portão desconjuntado, as dobradiças a despegarem-se. Há muito tempo já que aqui não vinhas. Sandra era da cidade, gostava da capital, detestava a vida da aldeia. Lá ficou.

(...)

(...) O dia acaba devagar. Assume-o e aceita-o. É a palavra final, a da aceitação. Só os loucos e os iludidos a não sabem. Não sou louco. Não são horas da ilusão. Vou fechar a varanda. Tenho de ir avisar a Deolinda. É uma tarde quente de Agosto, ainda não arrefeceu. Pensa com a grandeza que pode haver na humildade. Pensa. Profundamente, serenamente. Aqui estou. Na casa grande e deserta. Para sempre.

Fontanelas, 5 de Maio de 1982.»

Vergílio Ferreira, Para Sempre (Bertrand: Lisboa, 1987), p. 9 (primeira) e p. 306 (última).

Semana da leitura

A leitura não tem semanas! Apetece dizer, de facto. Mas dada a elevada taxa de iliteracia da leitura em Portugal, o Plano Nacional de Leitura acaba por ser uma das poucas boas medidas do ME. Em tamanha atoleira de medidas muito pouco genuinamente educacionais é muito compreensível que as boas medidas tenham pouca visibilidade!

Mas é imporante que se diga que há muito a fazer para incementar hábitos de leitura nas crianças e jovens portugueses. A "semana da leitura", que hoje termina, é uma dessas boas iniciativas. Dar a ler -- eis o mote!

Sabedoria educacional!

Um dos problemas da educação em Portugal advém, como já quase todos sabemos, da falta de preparação filósofica e científica clara e competente de quem tem tido intervenção nas políticas educativas, que pudesse, se fosse o caso, orientar então políticas verdadeiramente solucionadoras da ainda precaridade científica, cultural e competente de muitos cidadãos portugueses. Como se sabe também, o ME foi tomado de assalto por pseudo-pedagogos, que, como em muitas outras situações da política nacional, não tendo perfil, verdadeira competência e/ou curriculum à altura de desempenharem cargos verdadeiramente exigentes da vida activa, dedicaram-se à produção de textos construídos com base em citações de citações ou criando ensaios giríssimos de pseudo-pedagogia, carregados de enunciados esotéricos para parecerem complexos, mas que -- e como se trata de coisa séria -- pouco ou nenhum fundamento científico nem filosófico acabam por ter.
Não resisto a citar aqui um excerto de um texto (via ramiromarques), que uma das pessoas mais qualificadas para produzir reflexão crítica sobre educação, Maria Filomena Mónica, escreveu no Público de 30 de Setembro de 2007, a propósito do Senhor Secretário de Estado da Educação Valter Lemos. (Entre este texto crítico de MFM e o que acima escrevi... não há naturalmente qualquer relação!). Leia-se com cuidado e serenidade:

«Não, senhor secretário de estado
Maria Filomena Mónica

Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tem aparecido na televisão e até no Parlamento, o mesmo não sucedendo ao seu secretário de Estado, Valter Lemos. É pena, porque este senhor detém competências que lhe conferem um enorme poder sobre o ensino básico e secundário.

Intrigada com a personagem, decidi proceder a uma investigação. Eis os resultados a que cheguei. Natural de Penamacor, Valter Lemos tem 51 anos, é casado e possui uma licenciatura em Biologia: até aqui nada a apontar. Os problemas surgem com o curriculum vitae subsequente. Suponho que ao abrigo do acordo que levou vários portugueses a especializarem-se em Ciências da Educação nos EUA, obteve o grau de mestre em Educação pela Boston University (...) Foi professor do ensino secundário até se aperceber não ser a sala de aula o seu habitat natural, pelo que passou a formador de formadores, consultor de "projectos e missões do Ministério da Educação" e, entre 1985 e 1990, a professor adjunto da Escola Superior do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Em meados da década de 1990, a sua carreira disparou: hoje, ostenta o pomposo título de professor-coordenador, o que, não sendo doutorado, faz pensar que a elevação académica foi política ou administrativamente motivada; depois de eleito presidente do conselho científico da escola onde leccionava, em 1996 seria nomeado seu presidente, cargo que exerceu até 2005, data em que entrou para o Governo.

Estava eu sossegadamente a ler o Despacho ministerial nº 11 529/2005, no Diário da República, quando notei uma curiosidade. Ao delegar poderes em Valter Lemos, o texto legal trata-o por "doutor", título que só pode ser atribuído a quem concluiu um doutoramento, coisa que não aparece mencionada no seu curriculum. Estranhei, como estranhei que a presidência de um politécnico pudesse ser ocupada por um não doutorado, mas não reputo estes factos importantes. Aquando da polémica sobre o título de engenheiro atribuído a José Sócrates, defendi que os títulos académicos nada diziam sobre a competência política: o que importa é saber se mentiram ou não.

Deixemos isto de lado, a fim de analisar a carreira política do sr. secretário de Estado. Em 2002 e 2005, foi eleito deputado à Assembleia da República, como independente, nas listas do Partido Socialista. Nunca lá pôs os pés, uma vez que a função de direcção de um politécnico é incompatível com a de representante da nação. A sua vida política limita-se, por conseguinte, à presidência de uma assembleia municipal (a de Castelo Branco) e à passagem, ao que parece tumultuosa, pela Câmara de Penamacor(...).

Em resumo, Valter Lemos nunca participou em debates parlamentares, nunca demonstrou possuir uma ideia sobre Educação, nunca fez um discurso digno de nota. Chegada aqui, deparei-me com um problema: como saber o que pensa do mundo este senhor? Depois de buscas por caves e esconsos, descobri um livro seu, O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem. Publicado em 1986, teve seis edições, o que pressupõe ter sido o mesmo aconselhado como leitura em vários cursos de Ciências da Educação.

Logo na primeira página, notei que S. Excia era um lírico. Eis a epígrafe escolhida: "Quem mais conhece melhor ama." Afirmava seguidamente que, após a sua experiência como formador de professores, descobrira que estes não davam a devida importância ao rigor na "medição" da aprendizagem. Daí que tivesse decidido determinar a forma correcta como o docente deveria julgar os estudantes. Qualquer regra de bom senso é abandonada, a fim de dar lugar a normas pseudocientíficas, expressas num quadrado encimado por termos como " skill cognitivos".

Navegando na maré pedagógica que tem avassalado as escolas, apresenta depois várias "grelhas de análise". Entre outras coisas, o docente teria de analisar se o aluno "interrompe o professor", se "não cumpre as tarefas em grupo" e se "ajuda os colegas". Apenas para dar um gostinho da sua linguagem, eis o que diz no subcapítulo "Diferencialidade": "Após a aplicação do teste e da sua correcção deverá, sempre que possível, ser realizado um trabalho que designamos por análise de itens e que consiste em determinar o índice de discriminação, [sic para a vírgula] e o grau de dificuldade, bem como a análise dos erros e omissões dos alunos. Trata-se portanto, [sic de novo] de determinar as características de diferencialidade do teste."

Na página seguinte, dá-nos a fórmula para o cálculo do tal "índice de dificuldade e o de discriminação de cada item". É ela a seguinte: Df= (M+ P)/N em que Df significa grau de dificuldade, N o número total de alunos de ambos os grupos, M o número de alunos do grupo melhor que responderam erradamente e P o número de alunos do grupo pior que responderam erradamente.

O mais interessante vem no final, quando o actual secretário de Estado lamenta a existência de professores que criticam os programas como sendo grandes demais ou desadequados ao nível etário dos alunos. Na sua opinião, "tais afirmações escondem muitas vezes, [sic mais uma vez] verdades aparentemente óbvias e outras vezes "desculpas de mau pagador", sendo difícil apoiá-las ou contradizê-las por não existir avaliação de programas em Portugal". Para ele, a experiência dos milhares de professores que, por esse país fora, têm de aplicar, com esforço sobre-humano, os programas que o ministério inventa não tem importância.

Não contente com a desvalorização do trabalho dos docentes, S. Excia decide bater-lhes: "Em certas escolas, após o fim das actividades lectivas, ouvem-se, por vezes, os professores dizer que lhes foi marcado serviço de estatística. Isto é dito com ar de quem tem, contra a sua vontade, de ir desempenhar mais uma tarefa burocrática que nada lhe diz. Ora, tal trabalho, [sic de novo] não deve ser de modo nenhum somente um trabalho de estatística, mas sim um verdadeiro trabalho de investigação, usando a avaliação institucional e programática do ano findo."

O sábio pedagógico-burocrático dixit. O que sobressai deste arrazoado é a convicção de que os professores deveriam ser meros autómatos destinados a aplicar regras (...). Historiadora»

quarta-feira, 5 de março de 2008

Maioridade incontestável

O Público faz 18 anos. Há muito que atingiu a maioridade jornalística. A prova está não apenas no rigor, qualidade e diversidade cultural e intelectualmente interessante da informação, nas ousadias com que livremente enfrenta a verdade, mas também visível é a sua qualidade nos actos de vanguarda com que se atreve, mesmo num país ainda assim não muito dado a cultivar certos hábitos intelectuais, como ler e pensar criticamente, como é o caso neste aniversário: convidar um dos maiores críticos da comunicação social em Portugal, para ser director por um dia!

E Pacheco Pereira não se fez rogado. A sua proposta de primeira página para o caso do Casino de Lisboa merece atenção. A sua proposta é interessantíssima: uma anatomia da decisão – fazer uma cronologia relacional de todo o processo, visível graficamente num percurso, que acabou por mostrar, assim, um conjunto de “buracos”, de lacunas que exigem explicações, pois acabou por exibir as aparentes promiscuidades entre o interesse público e o interesse privado.

Parabéns ao Público. Parabéns ao crítico, que pode muito bem ter incrementado um continuado empenho em fazer melhor. No fundo, é o que todos precisamos!

Fotografias...


“Tuba com dez rostos parciais”
(Mirandela, Dezembro de 2007)
© Miguel Portugal