Mesmo para quem não se quadra pelo socialismo, antes se coloca sob um domínio liberal do pensamento e da acção política, como é o meu caso, o texto do ilustre ex-deputado socialista Veiga Simão, referido no post anterior é, no mínimo surpreendentemente lúcido...
Para aguçar o apetite, veja-se como é bastante improvável, para quem conheça a fundo o nosso actual e real sistema de ensino, não concordar, em geral, com este excerto (não dispensa a leitura integral!):
«O espírito reformista do actual Governo é compreensível e justificável, mas a qualidade na educação e formação só se conquista se esse espírito for partilhado com os professores e outros actores educativos e não ser pertença exclusiva de governantes.
Estes breves apontamentos significam afinal que as mudanças se concretizam nas suas consequências e, naturalmente, na criação de ambientes propícios à qualidade, à excelência e ao empreendedorismo.
MEDIDAS URGENTES
Do que referimos elegemos como medidas para melhorar a educação e formação:
-Reflectir sobre o conceito de educação e formação ao longo da vida interligando-o com uma filosofia de desenvolvimento sustentável e de coesão social e com a competitividade de Portugal na UE-25, integrando as nossas instituições educativas e formativas em plataformas de conhecimento ou pólos de competitividade e tecnologia regionalizados e internacionalizados;
-Conferir maior autonomia à escola e à universidade, permitindo diversidade nos modelos de governação e flexibilidade na sua organização, com representatividades adequadas ao ambiente onde se inserem e à sua missão e funções a nível regional, nacional, europeu e/ou internacional; nobilitar a escola e prestigiar o professor como obreiro de criação e transmissão do conhecimento e dar voz ao cidadão;
-Construir sistemas de avaliação independente que permitam a avaliação do desempenho institucional, dos cursos e dos professores, em consonância com agências nacional e internacionalmente credíveis; intensificar os processos de auto-avaliação como elementos imprescindíveis do processo de avaliação;
-Intensificar a cultura científica e, em particular, a observação e criação científica e o ensino experimental;
- Emagrecer, o poder político, libertando por um lado, a escola e a universidade e por outro, o Estado de múltiplas paralisias burocráticas, respeitando a autonomia criadora e responsável; assim seria suficiente um único Ministério, na prática um Brain Trust, a tutelar a educação, incluindo ensino superior, a formação e a ciência; (a dimensão actual seria reduzida a 30%) fortalecer, ao mesmo tempo, os poderes estratégicos de regulação e fiscalização do Estado num ambiente de concorrência saudável e de solidariedade activa;
-Contratualizar as escolas e as universidades, de acordo com as suas especificidades para se atingirem em dez anos metas nacionais expressas em indicadores de criação do conhecimento e inovação iguais, pelo menos, à média da UE-15; associar a esses contratos a cooperação científica de escolas secundárias, tecnológicas e profissionais com universidades e institutos politécnicos;
-Redefinir as carreiras docente e de investigação e construir novos modelos de formação, permitindo elevada mobilidade, designadamente nos futuros pólos de competitividade e de tecnologia, de modo a transferir o conhecimento para a empresa, para a administração ou para as entidades científicas e culturais, com oportunidade, estimulando o empreendedorismo; inserir doutorados nas escolas e nos designados territórios educativos;
-Realizar e credibilizar exames aos alunos no fim de todos os ciclos, como actos naturais de avaliação dos conhecimentos, de apoio ao percurso profissional dos alunos, e de incentivo ao mérito;
-Apostar na qualidade e na ambição pela excelência, velar para que as chamadas reformas não conduzam a facilitismos e a uma maior degradação do binómio qualidade-quantidade, o que nos arrastaria para uma posição intolerável no espaço europeu da educação e formação.»
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