quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Resposta de Leite Pereira ao contraditório

José Leite Pereira (e muito boa gente, que estão a fazer o seu trabalho apologeta) continua a argumentar (editorial do JN de hoje) que a seriedade da sra. ministra, em contraste com a dos professores (que só querem "rebentar já" com o modelo -- este "apelo ao terror" é, como se sabe, uma das mais conhecidas falácias informais!) é inquestionável: prometeu que vai rever o modelo, mas, custe o que custar, temos que continuar a experimentar até ao final deste ano lectivo!

Quer dizer: um hipotético modelo de avaliação de desempenho médico está, decididamente, a colocar em causa a estabilidade da actividade médica nos hospitais e centros de saúde, a colocar em causa a qualidade da prestação dos cuidados de saúde aos doentes e, constatado pela esmagadora maioria dos médicos, colocará em risco o futuro funcionamento dos hospitais e centros de saúde por ser mais um instrumento economicista de abaixamento da qualidade da prestação de serviços de saúde. Mas como os sindicatos dos médicos aprovaram, erradamente, um memorando de entendimento com o Ministério da Saúde, deve-se continuar a implementar o dito modelo de avaliação!

Na hierarquia de valores de muito boa gente, a educação das crianças e jovens (a saúde!) está num plano inferior aos acordos políticos. Não deveria ser sopesada, pelo menos, no mesmo plano?!

Testemunho

Nesta fase de profunda contestação da esmagadora maioria dos professores portugueses face às políticas erradas do ME é vital a tentativa séria de obter informação necessária para auxiliar a uma tomada de posição crítica sobre esta batalha em torno, não apenas ou tão-só da avaliação de desempenho, mas do rumo empobrecedor da EDUCAÇÃO em geral. Detenhamo-nos neste testemunho do digníssimo (e aqui, desde já, louvado) colega de Filosofia, Aires de Almeida:

«(…) O que realmente importa no desempenho do professor é, respeitando os alunos e os seus direitos, ensinar-lhes e ajudá-los a aprender o que é suposto aprenderem, recorrendo às concepções pedagógicas que muito bem se entender. É relativamente fácil apurar se o professor soube realmente ensinar e se os alunos conseguiram realmente aprender, independentemente da metodologia usada e das concepções pedagógicas em jogo, desde que os seus alunos realizem no final do percurso exames bem concebidos. E se se ponderarem os resultados dos exames comparando-os com a média de cada disciplina nas respectivas escolas, estamos muito próximos de um sistema de avaliação muito mais justo, simples, eficaz e dignificante para todos. Claro que para isso era preciso haver mais exames, além de melhores programas e de mais formação de professores, coisas que não parecem interessar minimamente a senhora ministra.

Assim, tudo indica que quando a senhora ministra afirma totalitariamente que ou se aplica o seu modelo ou não há outro, só pode estar a fazer chantagem, o termo que utiliza para descrever o comportamento dos sindicatos junto dos professores, como se os professores fossem idiotas. A verdade é que neste momento já não são os sindicatos a comandar os professores, mas os professores a empurrar os sindicatos, de tal modo que os próprios sindicatos já não estão em condições de cumprir o acordo assinado há meses com o ministério. De nada serve, portanto, ao primeiro-ministro apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Se estes tivessem representado devidamente os professores, nunca teriam de voltar agora atrás com a palavra. Por isso, não vale a pena recorrer a fantasias e negar uma realidade muito crua: a insistência do governo no actual modelo está a degradar como nunca o sistema educativo nacional e a pôr em causa o normal funcionamento das escolas. E esta ministra ficará seguramente na história como a maior desgraça que se abateu nos últimos tempos sobre a educação em Portugal. Isso só ainda não é mais notório porque os efeitos das políticas educativas só se tornam evidentes passados vários anos. Por isso é arrepiante ver a senhora ministra insistir – contra tudo e contra todos os que, em Portugal, já alguma vez revelaram interesse pelas questões da educação – numa teimosia própria de mentes obstinadas e dogmáticas. E é também por isso um imperativo de justiça desobedecer a esta lei arbitrária e injusta, sobre uma questão de tão grande importância. Chama-se a isto desobediência civil e foi isso que fizeram em diferentes circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russell e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei, diz a senhora ministra sem se aperceber que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas terá mesmo de ser.»

(Artigo completo no Público de ontem.)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

É só isto!

E ei-la, pronta... A avaliação de desempenho dos professores e educadores no Chile, digo, em Portugal, é só isto! (O bom jornalismo a começar a investigar, a começar a dar a conhecer verdadeiramente o que está em jogo! Finalmente!)
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De qualquer modo, o cidadão verdadeiramente interessado em formar uma opinião crítica e fundamentada sobre tema tão fulcral na nossa sociedade (e a que todos afectará!) e escapar, assim, ao atoleiro das emoções, dos estereótipos, preconceitos e fáceis ideias pré-fabricadas para assentarem que nem uma luva, pode agora começar a compreender um pouco melhor de que se trata quando se trata deste modelo de avaliação único, absoluto e último (não fosse da autoria de MLR!).
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Mas, por favor, não se ponham a ler o Decreto Regulamentar n.º 2/2008 na íntegra (muito menos o novo Estatuto da Carreira Docente), não tentem elaborar fichas de observação com itens o mais objectivos possível para concretizar de modo justo aquelas directrizes, não solicitem nas escolas dos vossos filhos que lhes exibam e expliquem nenhum exemplar dessas fichas -- não vá o engenheiro, médico ou cabeleireiro perder tempo com essas minudências e achar... demasiado burocrático!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Jornalistas e… jornalistas!

No seu editorial de Domingo, o sr. Director do JN, José Leite Pereira, resume facilmente (ao contrário de outros, mais complicados!) o mega-protesto dos professores: são uns “merendeiros”, cegos militantes (todos comunistas!) a reboque dos sindicatos; ao contrário da seriedade (impoluta!) da Ministra são uns “terroristas”, que a propósito do processo de avaliação querem «rebentá-lo desde já» (vocabulário objectivamente irrepreensível!); refractários cega e injustamente ciosos dos seus principescos privilégios (boa comparação com os militares!); e, a rematar, os avaliados são todos uns invejosos, pois gostariam é de estar na pele dos avaliadores (que estão todos muito satisfeitos, portanto)… e por isto é que não querem esta avaliação (e só se manifestaram contra a avaliação, claro)!

Ora, o sr. Director (de um jornal centenário de proa), ao invés de fazer uma análise crítica aprofundada e substancial, respigou o acessório; ao invés de uma análise serena e sensata, atolou-se no ressentimento, no lugar-comum e no estereótipo emocionalmente reconfortante e comercialmente mais seguro (é o melhor, diante de tão complexa matéria e assim não se faz pensar!); ao invés da análise crítica racional, escolheu o estilo apologético (defendam o governo, bem precisa!)

O mais importante é que a seriedade (da politicamente competente ministra, que contrasta com a falta de escrúpulos dos viciosos professores!) se resume e define – não pela frontalidade da verdade, não pela humildade da humana finitude errónea, não pela abertura ao diálogo cooperante em busca do melhor, não pelo conhecimento de causa, nem tão pouco pela prioridade do serviço público em detrimento do teimoso protagonismo político pessoal ou partidário – se resume e define, pois, pela experimentação pedagógica, que aqueles que sabem, sabem que colocará, mais uma vez, em questão a estabilidade das escolas, será mais um contributo para a consolidação do falseamento dos resultados das aprendizagens e, portanto, prosseguirá a degradação das condições de ensino-aprendizagem de milhares de crianças e jovens, que, não podendo frequentar o “colégio americano”, têm que continuar presos nas catacumbas cor-de-rosa da escola virtual de Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues!

Com “gente” assim (120.000!) por essas escolas fora é melhor o sr. Director retirar já os seus filhos (ou netos) das escolas públicas (ou será que já lá não estão?!) e mantê-los fechados em casa com os seus “Magalhães” e outros gadgets socráticos salvíficos a ouvir, em fundo, a voz conscienciosa do Grande Irmão trazida pelos mais bem avaliados jornalistas do reino: “eu sou um humilde ignorante ao teu serviço”!

P.S.: Por favor, sr. Director, não publique esta carta, não vá o leitor compreender e analisar critica e livremente o que aqui se escreveu!
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("Carta" enviada ao Jornal de Notícias, a propósito do editorial da edição de Domingo, 9-11-2008)

120.000 professores em defesa… das famílias portuguesas!

Mesmo com o impedimento da divulgação dos números por parte da polícia (quem manda agora nas polícias?!), o que é facto é que decorreu mais uma inequívoca manifestação crítica da quase totalidade dos cerca de 150.000 professores portugueses face às políticas pseudo-reformistas do governo na área da educação. Ao contrário do que os mais apologetas meios de comunicação social querem fazer crer, os professores não foram a reboque dos sindicatos (antes usaram as suas estruturas organizacionais para lá estarem), não são todos comunistas(!), e não se limitam a reivindicar, refractariamente, principescos privilégios (que, de facto, não os têm!).
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Não, esses não são os professores que temos hoje nas nossas escolas e que Sábado se deslocaram a Lisboa, com esforços acrescidos para muitos que foram e voltaram no mesmo dia de Trás-os-Montes e Algarve. A educação é um fenómeno social bem mais complexo, que se não deixa compreender de uma penada por qualquer cidadão mais incauto, ávido de crítica fácil e em busca do "bode expiatório", muito menos por uma opinião pública, tantas vezes, superficialmente informada, sujeita à amordaçante propaganda governamental (quase "göebbelsiana") e, portanto, longe de estar suficientemente preparada para proceder a uma análise cuidada, objectiva e crítica.
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Não, os professores manifestaram o seu profundo, sério, reiterado e quase desesperado repúdio crítico face a questões bem mais fundamentais e estruturantes de uma escola realmente organizada no sentido do efectivo sucesso dos seus alunos, das quais, entre outras, salientaria as seguintes:

1. Os professores criticam as políticas inculcadoras de um ambiente de facilitismo nas escolas, de desresponsabilização perante as aprendizagens e falseadoras dos resultados e, portanto, das aprendizagens dos alunos -- qual onda de analfabetização oculta, embora diplomada, que está já a atingir, sobretudo, os alunos de famílias mais desfavorecidas, que estão, muitas vezes, em absoluta dependência de uma escola que os faça realmente aprender o fundamental para crescerem como seres humanos e se adaptarem a este mundo exigente;

2. Os professores criticam as alterações (mais uma) ao próximo concurso de professores, que exigirá que os professores concorram obrigatoriamente a 25 escolas e 4 Quadros de Zona Pedagógica (grosso modo, distritos), voltando a colocar em causa a tão importante estabilidade do corpo docente nas escolas, pois só ela permite trabalhar em torno de projectos educativos reais e não virtuais (apenas para inspector ver!);

3. Os professores criticam uma avaliação cheia de erros incompetentes – de quem (por ressentimento?!) não só copiou o modelo mais “pesado”/burocrático que se conhece (o do Chile, quando podia ter copiado, por exemplo, o da Alemanha!) como ainda o agravou mais, transformando-o num processo quase kafkiano –, dos quais se destacam os seguintes:
3.1. avaliação dependente do sucesso dos alunos (um professor será avaliado tanto melhor quanto maior for o sucesso; se, por exemplo, uma turma começar o ano na sua disciplina com 2 alunos com classificações negativas do ano anterior, o professor poderá ser Muito Bom se esta acabar apenas com uma negativa, ou Excelente se acabar sem negativas!);
3.2. avaliadores sem qualificações científico-didácticas para avaliar o desempenho lectivo dos avaliados (por exemplo, um professor de História não tem, não pode ter, nem tem que ter conhecimentos científicos e didácticos para avaliar um professor de Filosofia, para não dar exemplos cuja disparidade é mais gritante!)

E a lista poderia continuar. Mas o essencial é que os professores, ao contrário do que os ressentidos críticos afirmam preconceituosamente e sem pudor, por um lado, querem uma avaliação que poderá até ser mais parecida com esta do que com a anterior e, por outro lado, estão profundamente preocupados com os alunos… que estão a ficar sem professores e sem ensino de qualidade.

A manifestação de professores de Sábado último – a 4.ª maior manifestação em absoluto após 1974 e a maior de uma classe profissional até hoje realizada em Portugal – foi empreedida, pois, em séria defesa das famílias portuguesas, principalmente das mais desfavorecidas. Felizmente, não são os teimosos e incompetentes, frios e distantes, autistas e arrogantes governantes que estão nas nossas escolas a orientar os milhares de crianças e jovens nos mais decisivos momentos das suas vidas. São os professores.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

À espera de Obama

Barack Obama -- o 44.º Presidente dos Estados Unidos da América (resultados: Presidência, Senado e Câmara dos Representantes) -- prometeu uma mudança na política, tanto interna como externa, de uma das maiores e mais importantes democracias do mundo: ao nível da economia (o seu grande trunfo eleitoral), da fiscalidade, do sistema de segurança social pública (inexistente nos E.U.A.), da política externa. Mesmo que não venha a tornar-se um daqueles políticos visionários, tão raros quão vitais, já conseguiu, pelo menos, imprimir na sociedade americana um espírito, simultaneamente, (1.) de participação e envolvimento na política e (2.) de algum optimismo e mudança em tempo de profunda e séria crise económica e financeira interna e mundial. (Assim conseguissem outros líderes políticos na Europa e no mundo!) Conseguiu convencer a maioria dos americanos de que poderia ter melhores soluções para os problemas gravíssimos da américa e do mundo. A política é isso mesmo: convencer os outros de que temos as melhores soluções para a organização política da sociedade.

Resta agora aguardar -- decerto, ainda algum tempo -- pelos contornos, agora mais prosaicos, dessa mudança anunciada, embora tal mudança não deva ser assim tão grande, pelo menos não tanto quanto o entusiasmo da esquerda europeia esperaria. Ainda bem para todos que Obama vai governar ao centro!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Está "chumbada", sra. Ministra!

O ranking das escolas publicado hoje pelo jornal Público mostra, entre outras coisas, como o milagre da Matemática, afinal, foi só nos exames e não nas notas alcançadas no final do secundário. No seu editorial, José Manuel Fernandes mostra o embuste político, de consequências perigosas para futuro, protagonizado pela sra. Ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, a este propósito:
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1. MLR disse na Assembleia, quando estalou esta polémica, que o objectivo dos exames não é comparar com o passado, mas criar condições de igualdade entre os alunos; mas quando as notas saíram apressou-se logo a compará-las e a auto-elogiar-se com base nessa comparação(!), esquecendo, porém, que os que fizeram o exame na 2.ª fase (bem mais difícil!) foram prejudicados (diferença de 3,4 valores!)
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2. Depois, referiu serem necessários testes estatísticos para comprovar as acusações de facilidade nos exames, defendendo que o exame só poderia ser considerado demasiado fácil se as notas de "excelente" ultrapassassem 5%; todavia, nunca procedeu a este teste (e porque não?!), mas pelo estudo efectuado pelo Público pode ver-se que no ano passado houve 4,5% de "excelentes" (nota igual ou superior a 19 valores) e este ano 9,5%; logo, de acordo com o critério da própria sra. Ministra, a prova deve ser considerada demasiado fácil!!

3. Não satisfeita, tratou ainda de fazer mais uma acusação (no seu já habitual estilo belicoso), acusando certas «pessoas que acordam de manhã e dizem que o exame foi fácil demais, criando alarmismo entre pais, professores e alunos»; todavia, como responde, com assertividade, José Manuel Fernandes, «essas pessoas tinham razão, a ministra e os serviços é que estavam errados. Essas "pessoas", na sua maioria professores, são as que a ministra diz que não querem ser avaliadas. Porém, foi ela e o ministério que chumbaram nesta "avaliação" e nem sequer o admitem.» (in: suplemento "Ranking", p.5, "Público" de 3-11-2008)

Os rankings de escolas, afinal, mostram a decepcionante "nota" de desempenho da sra. Ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, no que toca a fazer política e um "chumbo" inapelável das políticas pseudo-educativas deste governo.

sábado, 1 de novembro de 2008

A “vender a banha da cobra”?!

O PM José Sócrates, no seu discurso inaugural da Cimeira Ibéro-Americana – cujo tema central é a crise financeira e económica mundial –, protagoniza um dos momentos mais cínicos da sua carreira política. Quando toda a gente está preocupada com a crise internacional, José Sócrates exibe os seus dotes propagandistas e vende, descaradamente, a “banha da cobra”: um computador verdadeiramente ibérico-americano (só por se chamar “Magalhães?!), que é um verdadeiro Tintin, vocacionado para toda a gente, dos 7 aos 77 anos (desculpa lá, óh Hergé, por esta inoportuna apropriação, mas ele não sabe o que faz!), que até os seus assessores (todos!) usam, pois não precisam de melhor (mas se não precisam de melhor, é porque o trabalho que realizam assim não o exige, embora talvez devesse exigir!).

Muito sinceramente, um profundo sentimento de vergonha me tocou, ao ver o chefe de governo do meu país exibir, sem qualquer pudor, a sua vaidade e a sua mais distinta lata sofística numa tentativa descarada de vender a sua pequena maravilha da técnica aos seus congéneres ibéro-americanos, maravilha essa que agora salvará… o mundo!

Contenção nas obras públicas

Manuela Ferreira Leite tem vindo a defender, desde que foi eleita Presidente do PSD, um sério repensar das grandes obras públicas, embora o tenha vindo a fazer com todo o cuidado, com certeza para mitigar o eventual impacto menos positivo que tal possa ter nas expectativas empresariais e, portanto, na economia (embora sempre lembrando que a economia não deve viver numa dependência “doentia” face ao Estado!). Claro que foi, de imediato, forte e facilmente criticada pelo governo e pelo PS!

Agora, o próprio Presidente do Tribunal de Contas, Dr. Guilherme de Oliveira Martins, eminente socialista, aconselha o mesmo: é preciso repensar as grandes obras públicas (optando apenas por aquelas que tenham um efectivo impacto positivo ao nível da economia e do emprego, a médio e longo prazo); é preciso poupar mais (subentenda-se: as famílias e o Estado); e o Estado deve preocupar-se seriamente em gastar menos e melhor.

Afinal, o discurso dito “catastrófico” já estará a “contaminar” membros proeminentes do próprio PS?! Não. Trata-se, pelo contrário, do rigor e desprendimento eleitoralista de quem sabe e parece estar realmente interessado no melhor para o país!

“Puxão de orelhas”!

O Presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama, não aceitou a correcção ao orçamento, para o governo “emendar a mão” no que toca à polémica alteração da lei de financiamento dos partidos, remetendo tal correcção para o debate da especialidade. Trata-se, do ponto de vista político, de um “puxão de orelhas”, que significa, no mínimo: “façam lá as coisas como deve ser, já que são mandatados (e bem pagos) para isso e isto do Orçamento de Estado é uma coisa muito séria!”

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ranking de políticas educativas

Os resultados obtidos pelos alunos das escolas portuguesas nos exames nacionais do 9.º ano e do ensino secundário, conjugadas com as classificações obtidas na frequência do último ano lectivo, proporcionaram mais um escalonamento das escolas em rankings nacionais (veja-se os da SIC, aqui).

Nesses rankings de escolas pode verificar-se duas coisas fundamentais para a avaliação do desempenho das escolas, mas também das políticas educativas orientadoras:

1. uma descida bastante significativa das escolas públicas nos rankings (a melhor pública – a Secundária D. Maria, em Coimbra – caiu de 5.º para 14.º lugar);

2. um aumento anormalmente exponencial das classificações nos exames de Matemática do 9.º e do 12.º anos.

Ora, o primeiro facto mostra claramente um falhanço confrangedor das políticas educativas pseudo-reformistas empreendidas por este governo, que pretensamente seriam a salvação da escola pública no que toca aos maus resultados dos alunos, situação que tais políticas, supostamente, iriam inverter. Se as políticas educativas deste ME fossem boas, as escolas públicas teriam, pelo menos, mantido os seus lugares relativos nos rankings, mas nunca teriam descido de forma abissal! Acontece que tais políticas não só não inverteram a situação como vieram agudizá-la, já que a instabilidade geral duradoura introduzida nas escolas pelo novo Estatuto da Carreira Docente e, em especial, por esta Avaliação de Desempenho grosseiramente injusta, altamente burocrática e irracionalmente absorvente do verdadeiro trabalho de professor enquanto professor, bem como o incrível conjunto de medidas facilitadoras da obtenção de diplomas, mas não de conhecimentos e competências, está a ter como consequência o desencadear (agora, cada vez mais agudizar) de um processo de decréscimo do nível de exigência das efectivas aprendizagens dos alunos e da sua consequente avaliação. E os resultados nas escolas públicas não são ainda piores, graças ao esforço de muitos professores resistentes que procuram prosseguir – apesar de tudo(!) – um trabalho criterioso, rigoroso, motivador e com sentido ético, com o fito de melhorar realmente os resultados das efectivas aprendizagens dos seus alunos, lutando, porém, contra um ciclópico facilitismo que deles teima apoderar-se!

O segundo facto deve-se – e tal não é muito difícil de compreender – ao facto dos exames de Matemática terem sido injustificadamente tão mais fáceis, ao ponto dos alunos em geral terem conseguido classificações anormalmente mais elevadas. Os alunos das escolas privadas conseguiram mesmo resultados bastante elevados. Isto explica-se porque esses alunos conseguem estar mais bem preparados para os exames e isso – entre outras razões – por nas escolas privadas ser mais fácil, digamos, “fugir” a algumas das mais nocivas políticas (des)orientadoras do ME!

Os que mais sofrerão com este decréscimo do nível de exigência na aprendizagem de conhecimentos e competências são, pois, os alunos que frequentam as escolas públicas e, destes, sobretudo, …precisamente os mais desfavorecidos. É caso para se dizer que a “educação socialista” deixou de ser… socialista! (Terá passado a ser um instrumento de domínio pelo prolongamento e gestão da ignorância?)

Assim, somos impelidos a concluir que, no "ranking das políticas educativas", as propostas deste ME estão, manifestamente, a afundar-se cada vez mais na tabela!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Afinal, estava (quase) tudo mal!

O relatório da Comissão de Inquérito ao último acidente na linha do Tua conclui, finalmente, que «defeitos grosseiros» na via e automotoras desadequadas estiveram, com certeza, na origem do acidente. E isto com base num número tão significativo de causas, que é, ao mesmo tempo, desesperante e vergonhoso que tal possa estar a acontecer neste país europeu, que o nosso actual timoneiro quer que siga o exemplo dos países nórdicos! Senão, veja-se:

- «A via no local do acidente apresenta defeitos grosseiros e facilmente identificáveis e suficientes para justificar a ocorrência do descarrilamento»

- Uma curva com medidas desadequadas, defeitos de alinhamento, de empeno, travessas que «necessitam de substituição imediata» (há 18 anos que não são substituídas e algumas têm já 40 anos, já que, segundo o documento, «a sua idade varia entre 1968 e 1990»).

- Falhas nas automotoras («desadequadas características do material circulante») – problemas nas rodas, falta de lubrificação e pouco amortecimento.


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Mais tranquilos ficamos com a conclusão de que não foi apurado qualquer «indício de actos de intervenção dolosa ou negligente produzidos por intervenção humana», segundo concluiu a Policia Judiciária que participou nas investigações, o que já não é nada mau!
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O ministro Mário Lino deu um prazo de 15 dias ao IMTT para apresentar um cronograma e deu 30 dias à Refer e CP para realizarem averiguações internas para apuramento das causas que conduziram às anomalias identificadas, o que, como assim veremos, é apenas para inglês ver!
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É, no entanto, curioso notar como em outros países mais evoluídos cívica e politicamente, perante uma situação tão clara de incumprimento das obrigações do Estado perante a salvaguarda da segurança dos cidadãos, se teriam apurado as respectivas responsabilidades políticas desta bárbara incúria e se teria procedido à respectiva demissão do responsável da tutela, que seria proposta pelo próprio, claro. O mais parecido que temos com tal, foi no trágico caso da ponte de Entre-os-Rios…, mas aí houve mais vítimas mortais! Em Portugal é tudo uma questão de vítimas mortais – “4” é ainda um número abaixo da responsabilização política!!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Maria Filomena Mónica a pensar

A propósito da polémica avaliação de professores e, em geral, do estado da educação em Portugal, parece-me importante citar aqui parte de uma entrevista que Maria Filomena Mónica – socióloga, mulher do também sociólogo António Barreto, intelectual de esquerda bastante respeitada – concedeu à Visão, a propósito do seu livro “Nós, os portugueses” (reunião de crónicas escritas para o Público):

«[MFM] O Estado deve preocupar-se com a redistribuição da riqueza, com a protecção das vítimas (de uma crise como esta), com um sistema de educação decente... disto nem quero falar mais. Aliás, a Saúde está muito melhor do que a Educação.

Arrasou os exames, nas suas crónicas... Mas mesmo assim, se calhar, nunca houve em Portugal, tanta gente tão qualificada.

Temos de ver o que quer dizer «qualificada». Se é ter um doutoramento, há muita gente nas Humanidades que tem um doutoramento e não devia ter. Há demasiado dinheiro para doutoramentos. E há muita gente que não os completa. Aliás, dá-me ideia de que, nas ciências exactas, as pessoas estão mais preparadas. Eu dei um curso de Literatura, na Faculdade de Letras, e eles recusavam-se a ler livros! Queriam fotocópias de capítulos. Não dou! O Ministério da Educação não confia nos professores e não os deixa sozinhos a corrigir testes qualitativos. Quer que eles sejam meros carimbadores automáticos de regras malucas que inventaram, como as do secretário de Estado Valter Lemos, que acha que há umas fórmulas matemáticas para avaliar o sucesso escolar. Como as das respostas de escolha múltipla, que estupidifica e só serve para preencher totobolas... Não distingue o bom do mau aluno, nem o criativo do marrão. Mais: agora, para os mentecaptos pedagogos do ME, existe uma coisa chamada Língua Portuguesa e outra Literatura Portuguesa. Com exames diferentes!

E deve haver avaliação de professores?

Sim, mas de outra forma. Com um corpo de inspectores de professores muito bem pagos. E deviam ser classificados por um director de escola - coisa que não existe em Portugal.
» (Vale mesmo a pena ler a entrevista integral!)

Mas por que razão haverá tantas pessoas respeitáveis – até provenientes da esquerda liberal portuguesa – a contestar (para não dizer: arrasar), com base em argumentos sólidos, a actual política educativa em Portugal?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Os números sempre exerceram um profundo fascínio no ser humano, em particular os números 1000, 10000, 100000,… Contando que comecem com o algarismo “1” e se prolonguem com vários zeros, causam sempre uma atracção quase mística. Não seria sincero se não concedesse que essa mística dos números também me atinge. Ultrapassar 10.000 visitas num blog sem especial projecção, em que muitas visitas se fazem, provavelmente, pelo conteúdo político, educacional e, por vezes, filosófico é sempre regozijante, sobretudo numa era de alguma pobreza de pensamento ou fuga generalizada perante as “coisas mais sérias”.

Assim, agradeço aos que ocuparam o seu tempo lendo o que aqui tenho escrito, especialmente aos que tiveram a lucidez de comentar criticamente o que leram, colocando em acto a inegável dimensão crítica e dialógica do pensamento (político, educacional e filosófico). Não poderia passar sem deixar aqui um agradecimento muito especial aos amigos que visitam com regularidade o blog e, sobretudo, aos meus alunos, que vêm efectuando alguns comentários críticos, num gesto ensaísta de cidadania de enorme importância futura.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

“Orçamento de risco”

O Orçamento de Estado é a trave mestra da gestão financeira do Estado. O orçamento apresentado para o difícil e incerto ano de 2009 é um arriscado misto de bom e mau orçamento.

Por um lado, apresenta alguns indicadores de confiança para a economia, no sentido em que, por exemplo, aumentando os vencimentos da função pública em 2,9% (maior aumento dos últimos 7 anos!), dá um pouco mais de poder de compra aos consumidores e, criando um fundo de auxílio ao pagamento das obrigações com créditos à habitação em risco, pode evitar, pelo menos aparentemente, o colapso económico de muitas famílias e até dar esperanças ao mercado imobiliário.

Mas, por outro lado, é um orçamento de risco, à partida, pelo menos pelas seguintes razões:

1. Cria um problema às empresas, quando as pressiona, indirectamente, no sentido de um aumento salarial na mesma ordem de grandeza do da função pública, quando nesta fase de recessão económica se impõe uma contenção de despesas muito rigorosa para fazer face à inevitável estagnação ou mesmo quebra da facturação.

2. Ao criar um fundo para gestão das dificuldades de cumprimento de compromissos com crédito à habitação, este governo cria um duplo problema:
2.1. obriga a que a injecção de capitais nesse fundo seja feita, pelo menos inicialmente, pelo Estado, uma vez que, com o mercado imobiliário em crise, os privados não arriscarão agora injecção de capital, introduzindo, assim, um grave problema de justiça distributiva, uma vez que os cidadãos contribuintes que sempre cumpriram as suas obrigações com os seus créditos irão contribuir para pagar as obrigações daqueles que, por várias razões, não fizeram bem as contas à vida!
2.2. e cria nas pessoas (e no mercado) aquilo que pode muito bem ser apenas uma ilusão de que, afinal, esta crise não exige grandes preocupações quanto ao eventual consumo acima das possibilidades (que poderia muito bem ser apelidado de “consumo selvagem”), pois há sempre o Estado que nos vem dar uma mãozinha…

3. Como os movimentos da economia nacional e internacional são bastante incertos, as previsões do governo para 2009 podem vir a ser obrigatoriamente revistas ainda mais em baixa e estragar as contas a Teixeira dos Santos (até porque as receitas não tenderão a aumentar), o que implicará, para prover aos compromissos orçamentais das despesas crescentes (por exemplo, com aumentos salariais ou com a gestão do fundo de auxílio ao pagamento de crédito à habitação), um aumento da dívida pública, aumentando ainda mais a nossa dependência face ao exterior e colocando cada vez mais em causa o futuro das próximas gerações.

Num tempo de evidentes necessárias contenções, de rigor e prudência a tentação eleitoralista é mais forte e José Sócrates e Teixeira dos Santos cedem na política financeira de rigor, que vinham seguindo mais ou menos escrupulosamente e com algum êxito. Mas também não são muitos aqueles que têm conhecimentos e competências suficientes para compreender economia política e finanças públicas ou que com isso ocupem o seu tempo, por isso o risco político acaba por ser pequeno!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008



Dar a pensar

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«(…) O verdadeiro significado que o Cristianismo teve para a vida política residiu na sua transformação dos valores humanos.

O Cristianismo afirmava que todas as almas humanas tinham o mesmo valor aos olhos de Deus. E o valor de cada indivíduo não residia na sua participação na razão universal, mas numa personalidade que respondia ao desafio do pecado. Para os filósofos era difícil explicar esta noção de personalidade e tendiam a voltar à descrição clássica da vida moral como uma competição entre a razão e as paixões. Com o aparecimento do protestantismo durante a Reforma, no século XVI, tornou-se evidente para todos, protestantes e católicos, que os seres humanos modernos tinham de ser concebidos em termos de vontade, embora não num qualquer sentido superficial que identificasse a vontade apenas com cada um fazer o que lhe aprouvesse. O Cristianismo desviou a atenção dos homens da conquista política e das coisas materiais do mundo, virando-a para o culto da vida interior, sendo o aparecimento do mundo moderno a construção lenta de uma sociedade na qual essa preocupação com a vida interior podia acompanhar completamente o envolvimento com o mundo. O mundo moderno é, evidentemente, um processo dinâmico, e o individualismo, neste sentido, talvez já tenha ultrapassado há muito o seu apogeu, mas os seus vestígios ainda se encontram entre nós, [quando tentamos saber] como atingir a felicidade através da realização interior e na divulgação da ideia dos direitos humanos, que não seriam concebíveis senão como resultado do percurso tortuoso da teologia cristã.»

Kenneth Minogue, Politics: A Very Short Introduction (London: Oxford University Press, 1995), trad. port. de Maria Manuel Cobeira, Política – o essencial (Lisboa: Gradiva, 1996) 44-45.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Clarividência não-eleitoralista

O eng.º Marçal Grilo, antigo Ministro da Educação do governo PS de António Guterres, disse ontem, entrevistado por Mário Crespo no Jornal das 9 da SIC Notícias, a propósito do pequeno "Magalhães", duas coisas essenciais, que importa louvar:

1. As escolas precisam de computadores - é uma evidência, indiscutível -, mas os professors precisam de formação específica para retirarem os melhores dividendos pedagógicos do uso do computador como um instrumento, entre outros, que pode auxiliar nas boas aprendizagens;

2. O "Magalhães" está a ser apresentado - disse ainda Marçal Grilo - como uma solução para o problema das apredizagens de conhecimentos e competências das crianças portuguesas - ainda abaixo do que seria desejável, quando comparado com outros países do mundo (por exemplo, pelo PISA, da OCDE) -, quando o essencial é que as escolas precisam de exigir mais dos alunos, os pais precisam de exigir que os seus filhos aprendam mais e, o mais importante, é preciso que os pais comecem a perceber que os seus filhos precisam de trabalhar mais, esforçarem-se mais, mas para isso terão de lhes incutir mais disciplina e hábitos e estilos de vida compatíveis com o sucesso escolar, caso queiram aprender o fundamental para poderem viver, quando não mesmo sobreviver, de forma condigna como pessoas neste mundo complexo e exigente.
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É claro que é disto que é necessário convencer os portugueses!
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Marçal Grilo terá dito o que disse, e bem, porque... não é candidato pelo PS a governar Portugal?! Ainda bem que há pessoas que reflectem sobre as políticas condutoras de tal pilar fulcral de qualquer sociedade, como é a educação e o ensino, com a lucidez de quem parece não estar manietado por infelizes interesses partidários e eleitoralistas (ou outros!), que só adiam a resolução dos problemas básicos do país!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reformas compulsivas

É hoje notícia na imprensa o aumento exponencial de reformas de professores. A questão fundamental a colocar é esta: será o resultado de um insolúvel problema de inadaptação de muitos a uma profissão naturalmente cada vez mais exigente ou resultará de uma transfiguração artificiosa da profissão de professor protagonizada pelas políticas educativas deste governo, com intuitos economicistas e populistas, fazendo-se uma verdadeira "limpeza à casa"? Natural inadaptação absoluta ou artificiosa transfiguração perversa?

É sempre demasiado fácil resolver dicotomias tentando conciliar ambas as partes. No entanto, a complexidade desta questão obriga-nos a pensar que, de facto, poderá muito bem ser uma dramática conciliação de ambas as causas!


Fotografias...




Lumen
(Figueira da Foz, Julho 2008)
© Miguel Portugal

sábado, 4 de outubro de 2008

O que há de mal no "Magalhães"

O contacto das crianças com o computador -- instrumento evidentemente importante na vida moderna contemporânea -- deve ser efectuado quando aquelas tiverem possibilidades desenvolvimentais para o fazer, o que poderá ser, tanto quanto se sabe, na idade escolar do 1.º ciclo.
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Mas a questão do "Magalhães" não é essa. A questão é que o computador tem funções diferentes em jovens de 5-9 anos (função lúdica) e em jovens na pré-adolescência (e adolescência), onde os chats, o messenger e outros serviços on line de grupos têm um papel importante. Portanto, primeira conclusão: um computador pessoal é importante para um pré-adolescente, mas não faz tanto sentido para uma criança em idade de 1.º ciclo.
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Mas, além disso, muito importante é a suposta omnipresença (que ainda ninguém sabe muito bem como aproveitar pedagogicamente!) do "magalhães" na escola, na sala de aula, quando a criança é, nesta idade, um utilizador de jogos (carácter lúdico) e a escola do 1.º ciclo, por muito lúdica que seja, é um espaço e um tempo, sobretudo, de aprendizagens básicas muitíssimo importantes -- ler, escrever e calcular. Ou seja, aprendizagens prévias às aprendizagens das TIC! Segunda conclusão: se é bom a criança ter contacto com o computador na escola (num determinado tempo) ou em casa, a posse de um computador pessoal (ainda por cima, portátil) pode desviá-la já -- desde cedo, portanto -- do essencial, que é apreender competências de leitura, escrita e competências matemáticas.
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Em suma, o "magalhães" pode ser, em certas circunstâncias, mais prejudicial do que benéfico, nesta fase etária. Para não ser prejudicial, requer uma utilização pedagógica muito bem estudada (ninguém conhece qualquer estudo!) e uma vigilância parental cuidada (em Portugal, impossível de generalizar a todos os lares, justamente por falta de conhecimentos e competências, não tanto informáticas, mas de literacia em geral de muitos adultos!).
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Quem viu/ouviu Steve Ballmer, o sucessor de Bill Gates na Microsoft, ontem entrevistado no "Expresso da Meia-Noite" (SIC Notícias), reparou que o argumento apresentado para defender o uso do "Magalhães" foi o de que Portugal é o primeiro (único até agora) país no mundo a introduzir um computador no 1.º ciclo do ensino básico! Fantástico! Mas é só isso -- fantástico! E é-o, sobretudo, para uma empresa que está, naturalmente, interessada em lucrar com o "Magalhães"! Mas também não é menos fantástico para um governo que tudo fará (nem que seja obscurecer o essencial com a distribuição destas maravilhas da técnica!) para ser reeleito. Ou seja, o pior é que o "Magalhães" é apresentado como se fosse uma solução ("modernaça", tanto ao gosto do nosso PM) para o problema das fracas competências básicas (matemática e língua materna!) evidenciadas pelas crianças portugueses quando comparadas com outras de outros países, quando os estudos científicos que existem mostram que não há nenhuma relação entre o uso e posse de PCs e o rendimento escolar!
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Choque tecnológico, sim; mas não é tudo. Há mais (e coisas mais substanciais) a fazer na educação em Portugal!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tropelias!

Veja-se aqui (via 31 da armada) um depoimento de um professor coordenador de um Departamento de Tecnologias da Informação e Comunicação, a propósito de uma acção de propaganda, perdão, digo, formação, acerca do "magalhães" (professor que, por acaso, até vislumbra utilidade pedagógica no dito!). Afinal, um dos problemas do sistema educativo em Portugal, apontado por este governo (e bem, diga-se), residia na falta de qualidade, rigor e exigência da formação contínua de professores... Coisas do passado, problema resolvido!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"Mais Platão, menos Prozac!"

Numa altura em que se sabe que o consumo de barbitúricos e anti-depressivos aumentou em Portugal, parece-me oportuno lembrar que talvez fosse mais vantajoso para curar as dores da existência se se lesse um pouco mais sobre como compreender uma série de coisas assustadoras e perturbantes, mas, apesar de tudo, compreensíveis, desde que sejamos adequadamente orientados para as perceber.

De facto, prolifera há muito um género literário muito divulgado nos países anglo-saxónicos, sobretudo nos E.U.A., que poderíamos apelidar de "divulgação filosófica", em que se pretende partilhar com os não-filósofos o que de mais importante e até útil esta aventura milenar do saber crítico pode ter para o ser humano. E dentro deste género, há muitos bons livros, alguns deles traduzidos para português. Um deles é precisamente Mais Platão, menos Prozac!, de Lou Marinoff, em que o autor procura defender a tese de que possuir "umas tintas de filosofia" (para usar a célebre expressão de Russell) pode ajudar a compreender muitas perplexidades e problemas da vida quotidiana do homem e da mulher que vive nas sociedades modernas contemporâneas e que têm, nos países mais desenvolvidos, atafulhado os consultórios de psicologia e psiquiatria.

Virtual ou real, a (boa) leitura, bem como a reflexão racional e crítica são sempre o caminho da libertação!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"Magalhães" desmistificado... para letrados!

Reflicta-se neste bem informado e lúcido texto de Pacheco Pereira sobre a mística da infotecnologização salvífica de Portugal e das futuras gerações e constate-se, em acto, como a literacia da leitura subjaz, como condição sine qua non, a outras literacias, designadamente das TIC, e, por isso, deve ser muito bem trabalhada pedagogicamente nos primeiros anos escolares, o que, muito provavelmente, não passará, talvez bem pelo contrário, pelo uso de... computadores!

"A máscara de Sócrates"

Leia-se a contundente e desmistificadora crítica do Professor Paulo Morais, num excelente artigo de opinião no JN de hoje, à demagógica e propagandista forma de estar na política de José Sócrates, que, apesar da sua mestria nestas áreas mais superficiais da arte de convencer sobre o "melhor" para a res publica, começa a esboroar-se.
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O rei ainda não vai nu..., mas quase! E o país continua à espera de alguém... sem máscara!

Fotografias...




“Step by step“

(Trás-os-Montes, Agosto 2008)

© Miguel Portugal