sábado, 17 de janeiro de 2009

Literatura fantástica e perda de referências literárias

A literatura do fantástico tem aumentado as suas edições a nível mundial. As editoras têm apostado em fortes campanhas de lançamento, com o Partenon ou a Catedral do Sacré Coeur como pano de fundo de lançamento de novos títulos. Também as muralhas do Castelo de São Jorge serviram recentemente de palco ao lançamento da tradução de “Brisingr”, do jovem autor Christopher Paolini. Portugal não fica, pois, atrás deste movimento comercial, que tem permitido a muitas editoras uma sobrevivência económica atractiva, mesmo que, todavia, nem todos os bons títulos deste género literário estejam ainda disponíveis em português.
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Séries de sucesso como “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien, e “Harry Potter”, de J. K. Rowling, deram o mote para que tivesse florescido um género literário, que de menor consideração, se elevou ao sucesso comercial, contando hoje com um amplo mercado mundial e nacional. (Não é despicienda a projecção de algumas obras no grande ecrán!). O público-alvo é, sem dúvida, a camada jovem, que vai devorando títulos, sem que muitos tenham, contudo, a possibilidade de detectar, em grande parte dessas obras, quase-plágios, tornando-as obras derivativas, mas que, por muito iletradas que sejam, com imitações claras dos mais conhecidos tropos do género, vão deliciando a juventude.
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Apesar de género literário com obras de proa bastante respeitáveis, a sua proliferação comercialmente abrangente traz alguns problemas. Antes de mais, inundou o mercado, das livrarias aos hipermercados, levando à extinção das principais colecções de “ficção científica” das principais editoras portuguesas. Não é, pois, nada fácil encontrar hoje os grandes autores canónicos, como Philip K. Dick, Robert A. Heinlein, Stanislaw Lem, Robert Silverberg ou mesmo Asimov.
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Depois, açambarcou o tempo de leitura dos mais jovens. Diríamos: por que não?! Afinal, os mais jovens lêem pouco, em geral e particularmente em Portugal, e a leitura deve ser uma actividade livre. Com certeza. Mas estes jovens, apesar de estarem a ler mais, não estão a ler o melhor. Corremos o risco das novas gerações de leitores crescerem num castrante vazio de referências literárias.
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E o que é isto de referências literárias? São as melhores obras de arte literária que jamais alguém conseguiu escrever, desde os clássicos gregos à actualidade, na sua magnânima intemporalidade. São incontornáveis – apenas no género da ficção científica ou da literatura fantástica – H. G. Wells (“Guerra dos Mundos”, de 1898, problemática da existência de extraterrestres e conflito com os terráquios, obra recentemente honrada com um filme), Aldous Huxley (“Admirável Mundo Novo”, de 1932, problemática, actualíssima, do controlo do comportamento humano através de manipulação genética), George Orwell (“1984”, de 1949, problemática do controlo político do indivíduo pelo Big Brother Estado) ou mesmo Humberto Eco (sobretudo, no fascinantemente hermético “O Pêndulo de Foucault”, de 1988, sapiencial incursão no ocultismo das sociedades secretas medievais).
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Por que é importante ler estas obras de proa? O tempo disponível para ler não é infinito – não se pode ler tudo! Por isso, seria muito mais proveitoso, sobretudo para o neófito, que lhe fosse proporcionada leitura (pelo menos, também) dos autores que melhor dominam a linguagem escrita ou determinada língua em particular, que mais criativos são na forma como escrevem, na forma como nos transmitem sentimentos, emoções, ideias, na forma como nos transportam para novos mundos possíveis, que mais corajosos, informados e inteligentes são na forma como abordam os temas-problemas mais fundamentais, que entretecem a nossa existência, e, no fundo, pela mestria com que nos permitem o acesso à compreensão do mundo e de nós mesmos.
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Assim, na questão da literacia da leitura em geral, urge uma política educativa séria, corajosa e libertadora, que fugisse à tentação populista da novela fácil ou do perigo, eminente, do pragmatismo instrumentalizador da língua, que pode transformar a sua aprendizagem simplesmente num empobrecedor aprender a ler um contrato ou a escrever uma mensagem de correio electrónico! “Planos de leitura” sim (uma das poucas boas medidas educativas deste governo); mas com graus de evolução para patamares mais elevados, com estimuladoras consequências para a avaliação dos alunos e com concertada participação e envolvimento de todos (pais, professores e sociedade civil).
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(In: Terra Quente, 15-01-2009)

2 comentários:

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